sábado, 1 de outubro de 2011
Conto do livro Temporais de Khalil Gibran
quarta-feira, 21 de setembro de 2011
Últimos sopros antes de mais um novo final
- Só se faz de vítima quem se sente culpado.
sábado, 27 de agosto de 2011
Outra vez a mesma gentinha!
Sobre a verdade, o saber, os espíritos e os homens.
terça-feira, 16 de agosto de 2011
Aforismos de uma época que chega ao fim
domingo, 7 de agosto de 2011
O grito de vida
sábado, 6 de agosto de 2011
O louco outra vez
quarta-feira, 3 de agosto de 2011
Sobre Deus, a verdade e algo mais
sábado, 23 de julho de 2011
Sinais de uma espiritualidade elevada
sexta-feira, 22 de julho de 2011
Caminhos para lugar nenhum
sábado, 9 de julho de 2011
Da liberdade
Trecho do Zaratustra de Nietzsche
Do Caminho do Criador
"Queres, meu irmão, isolar−te? Queres
procurar o caminho que te guia a ti
mesmo? Espera ainda um momento e
ouve−me.
"O que procura é um erro". Assim fala o
rebanho.
E tu pertenceste ao rebanho durante
muito tempo.
Em ti também ainda há de ressoar a voz
do rebanho. E tu pertenceste ao
rebanho durante muito tempo.
Em ti também ainda há de ressoar a voz
do rebanho. E quando disseres: "Já não
tenho uma consciência comum
convosco", isso será uma queixa e uma
dor.
Essa mesma dor é filha da consciência
comum, e a última centelha dessa
consciência ainda brilha na tua aflição.
Queres, no entanto, seguir o caminho
da tua aflição, que é o caminho para ti
mesmo? Demonstra−me o teu direito e
a tua força para isso!
Acaso és uma força nova e um novo
direito?
Um primeiro movimento? Uma roda que
gira sobre si mesma? Podes obrigar as
estrelas a girarem em tomo de ti?
Ai! Existe tanta ansiedade pelas alturas!
Há tantas convulsões de ambição!
Demonstra−me que não pertences ao
número dos cobiçosos nem dos
ambiciosos!
Ai! Existem tantos pensamentos
grandes que apenas fazem o mesmo
que um fole. Incham e esvaziam.
Chamas−te livre? Quero que me digas o
teu pensamento principal, e não que te
livraste de jugo.
Serás tu alguém que tenha o direito de
se livrar de um jugo? Há quem perca o
seu último valor ao libertar−se da sua
sujeição.
Livre de quê? Que importa isso a
Zaratustra? O teu olhar, porém, deve
anunciar−se claramente:
livre, para quê? Podes proporcionar a ti
mesmo teu bem e o teu mal, e
suspender a tua vontade por cima de ti
como uma lei? Podes ser o teu próprio
juiz e vingador da tua lei?
Terrível é estar a sós com o juiz e o
vingador da própria lei, como estrela
lançada ao espaço vazio no meio do
sopro gelado da soledade. Ainda hoje te
atormenta a multidão; ainda conservas o
teu valor e as tuas esperanças todas...
Um dia, contudo, te fatigará a soledade,
se abaterá o teu orgulho e cerrarás os
dentes. Um dia clamarás: "Estou só!"
Chegará um dia em que já não vejas a
tua altura, e em que a tua baixeza esteja
demasiado perto de ti. A tua própria
sublimidade te amedrontará como um
fantasma. Um dia gritarás: "Tudo é
falso!"
Há sentimentos que querem matar o
solitário. Não o conseguem? Pois eles
que morram! Mas serás tu capaz de ser
assassino?
Meu irmão, já conheces a palavra
"desprezo"? E o tormento da justiça de
ser justo para com os que te
menosprezam?
Obrigas muitos a mudarem de opinião a
teu respeito; por isso te consideram.
Abeiraste−te deles, e contudo, passaste
adiante; é coisa que te não perdoam.
Elevaste−te acima deles; mas quanto
mais alto sobes tanto mais baixo te vêm
os olhos da inveja. E ninguém é tão
odiado como o que voa.
"Como quereríeis ser justo para comigo!
− assim é que deves falar. − Eu destino
para mim a vossa injustiça, como lote
que me está destinado".
Injustiça e baixeza é o que eles arrojam
ao solitário; mas, meu irmão, se queres
ser uma estrela, nem por isso os hás de
iluminar menos.
E livra−te dos bons e dos justos!
Agrada−lhes crucificar os que invejam a
sua própria virtude: odeiam o solitário. E
livra−te ainda assim da santa
simplicidade!
A seus olhos não é santo o que é
simples, e apraz−lhe brincar com fogo...
das fogueiras.
E livra−te também dos impulsos do teu
amor! O solitário estende depressa
demais a mão a quem encontra.
Há homens a quem não deves dar a
mão, mas tão−somente a pata, e além
disso quero que a tua pata tenha garras.
O pior inimigo, todavia, que podes
encontrar, és tu mesmo; lança−te a ti
próprio nas cavernas e nos bosques.
Solitário, tu segues o caminho que te
conduz a ti mesmo! E o teu caminho
passa por diante de ti dos e dos teus
sete demônios.
Serás herege para ti mesmo serás
feiticeiro, adivinho doido incrédulo, ímpio
e malvado.
É mister que queiras consumir−te na tua
própria chama. Como quererias
renovar−te sem primeiro te reduzires a
cinzas?
Solitário, tu segues o caminho do
criador: queres tirar um deus dos teus
sete demônios!
Solitário, tu segues o caminho do
amante: amas−te a ti mesmo, e por isso
te desprezas, como só desprezam os
amantes.
O amante quer criar porque despreza!
Que saberia do amor aquele que não
devesse menosprezar justamente o que
amava?
Vai−te para o isolamento, meu irmão,
com o teu amor e com a tua criação, e
tarde será que a justiça te siga
claudicando.
Vai−te para o isolamento com as
minhas lágrimas, meu irmão. Eu amo o
que quer criar qualquer coisa superior a
si mesmo e dessa arte sucumbe".
Assim falou Zaratustra.
domingo, 3 de julho de 2011
Pensamentos do além
Amor
Decepção
E quem foi que te decepcionou? Faz mesmo sentido essa pergunta? Só tem desilusão quem antes se iludiu. Assim dizem os anjos já a algum tempo. Não são os outros que te decepcionam, é você que deu importância demais a eles. Inclusive quando você se decepciona é porque você se deu importância demais. Mas agora cabe também a pergunta, porque é que gostamos tanto de criar ilusões a respeito de nossa grandeza? E ainda outra ainda mais importante, será que a nossa ilusão de grandeza não nos impede de enxergar a nossa própria grandeza? Pois normalmente isso é o que eu vejo, seres grandiosos com uma imensa ilusão de que são grandes, o que os tornam pequeninos. Mas há uma razão para isso. Voltaremos agora a primeira pergunta, porque é que criamos ilusões? Para se criar um sonho na Terra não é necessário tê-lo sonhado durante o sono antes? E como trazer a potencialidade divina que temos escondida em nós se de fato primeiramente não acreditarmos nela? Existe um tipo de ilusão, um tipo de fé, que mesmo que esteja equivocada, ela serve para nos mover adiante, serve para que tragamos algo para cá que ainda não está aqui. A parte dessa ilusão que não é real trará necessariamente desilusão no futuro. Mas como disse, ela é necessária. O melhor seria se iludir de brincadeira, sonhar acordado. Que os meus sonhos me tragam o que der pra trazer, e se deles nada acontecer então que se sonhe outros sonhos e que se siga adiante. Pois o importante de verdade não é realizar os sonhos, mas sim seguir adiante. Qualquer coisa que nos leve para frente, para além do que nós somos, é boa, mesmo que com ela venha dor e sofrimento. Não importa, faz parte do crescimento. Não somos seres prontos ainda, se permita crescer. Se permita ir adiante, ir além.
Brincadeira
O que é a vida senão uma grande piada? Uma piada sim, mas uma piada que merece ser levada a sério. Pois quem não entende a piada não ri. É preciso compreender a vida se quisermos rir dela. Eu vos digo com toda seguridade, a vida foi feita para se rir dela. Essa é a única razão dela existir. Porém, como disse, temos que compreendê-la, senão perdemos a piada e ficamos com a cara séria. É exatamente isso que acontece em muitos países desenvolvidos. As pessoas estão tão preocupadas com seus empregos que acabam se esquecendo da vida. Não que o emprego não seja parte da vida. Mas ele é parte e a parte não é o todo. Sempre que a parte, qualquer parte, vira todo, então se perde a vida, e aí se acaba ficando sério. Pois quem perde a vida perde a piada.
Compaixão
E o que dizer da compaixão? Compaixão te faz retornar ao todo. Te faz ser um novamente com o próximo e logo com toda a existência. Compaixão não é ter pena, não é dizer sim a tudo que os outros fazem. Inclusive muitas vezes significa dizer não, compaixão é ser o outro. Não é entender e nem aceitar o outro, é ser o outro. E ser o outro não trás nenhuma obrigação e nenhuma ética obrigatória para com a outra pessoa. Seremos a outra pessoa e isso por si só já é a maior benção que pode acontecer aos dois. Nessa fusão toda a existência entra em comunhão com os dois. E nisso um silêncio surge, e o amor nasce justamente desse segundo de silêncio. Compaixão não é perdão. Entre o que perdoa e o perdoado existem duas pessoas, na compaixão só existe uma. Ou melhor, desaparecem as duas e o que existe é só a existência. A prática da compaixão é de todas a melhor meditação. Aos poucos ela derruba a ilusão da separação, que no fundo é a única ilusão que existe da qual surgem todas as outras. Compaixão é o começo do caminho para a serenidade, do caminho de volta para a existência.
A respeito de ajudar os outros
- Antes de ajudar a alguém deve-se sempre se fazer 3 perguntas: -A pessoa realmente precisa da minha ajuda? - Ela quer receber a minha ajuda? - Ela está pronta para receber a minha ajuda? O não em qualquer uma dessas respostas torna a "ajuda" na verdade em apenas mais um problema. A "ajuda-a-qualquer-custo" não passa de invasão, tortura e tentativa de domínio.
- Se você quer realmente ajudar o mundo, então inevitavelmente terá que passar pelas 3 perguntas. Caso contrário, para o bem da própria humanidade, a sua ajuda é absolutamente dispensável.
- Normalmente se quer ajudar os outros, se quer ser útil, apenas para se sentir alguém importante. Porém, na maioria das vezes as pessoas realmente ajudariam as outras se elas finalmente aceitassem a sua insignificância. Se elas aceitassem simplesmente que ninguém precisa delas. Essa seria a maior ajuda possível.
- Por não querer aceitar que ninguém necessita de nós, passamos a criar e a ver problemas em todos os lugares. Fazemos isso apenas por um desejo de sentirmo-nos necessários. É apenas medo da insignificância. Os "salvadores do mundo" são o caso máximo desse medo.
- Como eu já havia dito anteriormente: Porque é que as pessoas continuam achando que o mundo precisa ser salvo? Quando é que elas se darão conta de que são elas que precisam de problemas no mundo para que assim possam se tornar "salvadores"?
- As vezes há também de se fazer uma quarta pergunta. Tenho eu capacidade de ajudá-lo? Apenas boa intenção muitas vezes não basta. É necessário capacidade também, senão a ajuda será apenas mais um problema.
- Esses pensamentos são verdades não apenas a nível pessoal, mas como também a qualquer outro nível, inclusive a nível de nações.
domingo, 19 de junho de 2011
Aforismos de um fim de semana em Weimar
- Para termos força para seguirmos adiante ao invés de cair em um niilismo enlouquecedor as vezes é mais importante termos inimigos do que amigos. Além disso, é por termos inimigos que precisamos também de amigos. Para combatê-los. Como ter "camaradas" senão por causa de um inimigo em comum? Em resumo, temos inúmeros motivos para sermos gratos aos nossos inimigos. Eles nos dão estímulo, entusiasmo e amigos. Jesus talvez tenha de alguma forma percebido isso, e foi por isso que disse: "Amai aos vossos inimigos". Pois no fundo eles não te fazem tanto mal assim.
- A arte serve para nos mostrar o além. Para nos levar a um lugar que está além da realidade comum. Porém, quando se está no limiar de entrar nesse novo estado, o apego a arte pode se transformar em um empecilho. É como encontrar a ponte a uma nova terra e ficar preso admirando apenas a ponte. Por mais que a ponte seja bela e necessária, o apego a ela fora da hora impedirá a pessoa de ver a beleza infinitamente maior que a espera na nova terra. É muito comum no comportamento humano se apegar ao que deveria ser temporário. É muito comum fazer do meio um fim em si mesmo.
- Tentamos nos tornar grandes e importantes inclusive através do sentimento de culpa. Muitas vezes nos culpamos imensamente por coisas simplesmente porque queremos ser importantes, pois queremos de alguma forma achar que tivemos alguma influência em tal acontecimento. Para isso usamos a culpa, pois do contrário, sem o sentimento de culpa nos tornamos insignificantes em relação ao que aconteceu. E o ser humano não teme a nada mais do que teme a sua própria insignificância. É melhor se sentir culpado do que insignificante.
- Tentar se fazer responsável por algo de bom que aconteceu, ou então culpado por algo ruim que ocorreu é absolutamente o mesmo ato. Vem da mesma energia, do mesmo desejo em evitar a própria insignificância.
- Não seriam também os sentimentos frutos de uma fisiologia da alma, assim como as sensações são frutos da fisiologia do corpo?
- Você deseja seguir um caminho espiritual? Então comece pelo corpo, pois ele é a base fundamental de toda espiritualidade.
- Você quer buscar a divindade perdida que está dentro de você? Então comece buscando a sua humanidade, pois é exatamente a sua humanidade que o torna divino.
- Tenho visto ateístas que são infinitamente mais espiritualizados do que os seguidores dos caminhos que levam ao espírito. E há uma razão muito simples para isso. Normalmente não se dá muita atenção para aquilo que já conquistamos anteriormente, para aquilo que já superamos anteriormente, apenas o usamos naturalmente em nossos atos, sem sequer que tenhamos que pensar sobre o assunto. Já é parte de nosso ser, o que é exatamente o caso de muitos ateístas em relação a sua espiritualidade. Além disso, normalmente se busca apenas aquilo que ainda não se tem, e exatamente essa é a situação de muitos dos buscadores do espírito, buscam aquilo que não tem. E quando criticam ateístas muitas vezes criticam quem estão muito a sua frente, com os quais poderiam ainda muito aprender.
sábado, 18 de junho de 2011
O recado dos Deuses
E assim o vento foi embora, deixando para trás apenas um silencioso rastro de paz e harmonia. O problema estava resolvido. A alma guerreira que anseia pela batalha, tem agora o caminho para fazê-lo criando harmonia e não mais destruindo e tornando feio o que vê pela frente. Que agora a guerra seja a boa guerra.
A mudança
Foi quando minha mente simplesmente começou a não poder me dar mais resposta nenhuma. Não me sentia bem na guerra, estava cansado. E não me sentia bem na paz, estava parado e entediado. Tentava pensar para encontrar uma maldita solução, pois parecia que nada dava jeito. E sobre outras coisas estava no mesmo dilema. Ser livre para me relacionar com quem eu quiser a hora que eu quiser ou me arriscar novamente em uma monogamia? A mente só me deixava maluco, pois quando eu pensava nisso nenhuma das opções parecia me satisfazer. Largar tudo e virar um maldito hippie, ou seguir a vida universitária para conseguir um bom emprego? Eu pensava e pensava e nada funcionava. Não queria nenhum deles. Viver ou morrer? Que diferença isso fazia?
Pensar, pensar, pensar, não adiantava. Só piorava. Mas foi então que o milagre veio. Foi então que não houve outra opção a não ser parar de perguntar coisas para mente. Foi a única maneira que encontrei de sobreviver. A mente não conseguia mais me dar resposta nenhuma que me servisse para nada. E então veio a meditação. E com ela o milagre. Buda estava certo. Não adianta responder as perguntas, pois o problema não está na resposta, mas sim na existência da pergunta. É a existência dela que não te deixa em paz. E então elas começaram a se silenciar pouco a pouco. E continuam indo em embora. E com elas muito lixo vai embora. Tudo que me impedia de viver a vida plenamente tem ido embora. Amigos, inimigos, família, emprego, estudos, sonhos, passado, futuro, tudo tem desaparecido. E com isso uma qualidade nova tem surgido. Um silêncio sereno. Uma paz que é infinitamente mais forte e mais bela do que qualquer uma de minhas loucuras. Agora ambas as respostas me satisfazem, qualquer resposta me satisfaz. Posso viver qualquer uma delas, essa já não é mais a questão, isso já não mais interessa. É a vida que vem surgindo. Sou eu que estou surgindo. Não mais alguém com resposta nenhuma a respeito de nada. Alguém limpo. Uma criança novamente. Buda esteve sempre certo.
domingo, 24 de abril de 2011
Os versos de ouro - Pitágoras
Honra, em primeiro lugar, e venera os deuses imortais,
a cada um de acordo com sua classe.
Respeita logo o juramento, e reverencia os heróis ilustres,
e também aos gênios subterrâneos:
cumprirás assim o que as leis mandam.
Honra logo a teus pais e a teus parentes de sangue.
E dos demais, faça-te amigo do que se sobressai em virtude.
Cede às palavras gentis e não te ponhas aos atos proveitosos.
Não guardes rancor ao amigo por uma falta leve.
Estas coisas, faça-as na medida de tuas forças,
pois o possível se encontra junto ao necessário.
Compenetra-te em cumprir estos preceitos,
mas atine-se a dominar
antes de tudo as necessidades de teu estômago e teu sono,
depois arranque-os de teus apetites e de tua ira.
Não cometas nunca uma ação vergonhosa,
Nem com ninguém, nem a sós
Acima de tudo, respeita-te a ti mesmo.
Seguidamente exercita-te em praticar a justiça, em palavras e em obras,
Aprende a não comportar-te sem razão jamais.
Sabendo que morrer é a lei fatal para todos,
que as riquezas, umas vezes te cabe ganhá-las e outras, perde-las.
Dos sofrimentos que cabem aos mortais por divino desígnio,
a parte que a ti corresponde, suporta-a sem indignação;
mas é legítimo que busques remédio na medida de tuas forças;
porque não são tantas as desgraças que caem sobre os homens bons.
Muitas são as vozes, umas indignas, outras nobres, que vem a ferir o ouvido:
Que não te perturbem, nem tampouco te voltes para ouvi-las.
Quando ouvires uma mentira, suporta com calma.
Mas o que agora vou te dizer
é preciso que cumpras sempre:
Que ninguém, por seu ditos ou por seus atos
te comova para que faças ou digas nada que não seja o melhor para ti.
Reflete antes de obrar para não cometer tolices:
Obrar e falar sem discernimento é de pobres gentes.
Tu, por tua vez, farás sempre o que não possa danar-te.
Não entres em assuntos que ignoras,
mas aprende o que é necessário:
tal é a norma de uma vida agradável.
Tampouco descuides de tua saúde:
Tem moderação no comer e no beber,
e no exercício do corpo.
Por moderação entendo o que não te faça dano.
Acostuma-te a uma vida saudável, sem frouxidão,
E guarda-te do que possa atrair a inveja.
Não sejas dissipado em teus gastos
Como fazem os que ignoram o que é honradez,
mas não por eles deixes de ser generoso:
nada há melhor que o equilíbrio em todas as coisas
Faz pois o que não te prejudica, e reflete antes de atuar.
E não deixes que o doce sonho se apodere de teus languidos olhos
sem antes haver repassado o que fizeste durante o dia:
"No que falei? O que fiz? Que dever deixei de cumprir?"
Começa do principio e percorre-o todo,
e reprova-te os erros e alegra-te com os acertos.
Isto é o que deves fazer.
Estas coisas que há de empenhar-te em praticar,
Estas coisas há que amar.
Por elas ingressarás na divina senda da perfeição.
Por quem transmitiu a nosso entendimento a Tetratkis (1)
fonte da perene natureza.
Adiante, pois! Ponha-te ao trabalho,
não sem antes rogar aos deuses para que te conduzam à perfeição.
Se observares estas coisas
conhecerás a ordem que reina entre os deuses imortais e os homens mortais,
em que se separam as coisas e em que se unem.
E saberás. Como é justo, que a natureza é uma e a mesma em todas as partes,
para que não esperar o que não há que esperar,
nem nada fique oculto a teus olhos.
Conhecerás os homens,
vítimas dos males que eles mesmos se impõem,
cegos aos bens que lhes rodeiam, que não ouvem nem veem:
são poucos os que sabem livrar-se da desgraça.
Tal é o destino que estorva o espírito dos mortais,
como contas infantis rodam de um lado a outro,
oprimidos por males inumeráveis:
porque sem adverti-lo os castiga a Discórdia,
sua natural e triste companheira,
a que não há que provocar, sem ceder-lhe o passo e fugir dela.
Oh pai Zeus! De quantos males não livrarias os homens
se tão somente os fizesse ver a que demônio obedecem!
Mas para ti, tem confiança,
porque de uma divina raça estão feitos os seres humanos,
e há também a sagrada natureza que lhes mostra e lhes descobre todas as coisas.
De tudo o qual, se tomas o que te pertence,
observarás meus mandamentos,
que serão teu remédio e livrarão tua alma de tais males.
Abstenha-te dos alimentos como dissemos,
seja para as purificações, seja para a liberação da alma,
julga e reflete de todas as coisas e de cada uma,
alçando alto tua mente, que é o melhor de teus guias.
Se descuidas teu corpo para voar até as livres orbes do éter,
serás um deus imortal, incorruptível,
já não sujeito à morte.
. (1) Tetraktys. Número sagrado e fundamental dos pitagóricos pelo qual juravam fidelidade. Simboliza a unidade origem e principio, a dualidade das oposicoes e as complementaridades e o triunfo da trindade, que finalmente se desprende no universo do quatro. 1 + 2 + 3 + 4 = 10, a unidade expandida na manifestação, = 1 + 0 = 1, o retorno à unidade de origem.
E então veio a primavera ...
Jesus e Nietzsche foram dois opostos. Foram duas metades. Foram dois irmãos. Jesus mostrou a beleza que havia em uma metade da vida, e Nietzsche mostrou a beleza que havia na metade oposta. Mas agora é um novo renascer. Um renascer sem metades. Um renascer sem separação. Agora é a hora de ver beleza em todas as partes. O tempo chegou trazendo novos ares. Jesus sem Nietzsche não tem leveza suficiente para ver bondade na opressão, e Nietzsche sem Jesus não tem força suficiente para ver beleza e dança naquilo que é simples. Consolo sem esclarecimento apenas perpetua o sofrimento, e esclarecimento sem consolo não traz nenhum tipo de paz. Jesus sem Nietzsche e Nietzsche sem Jesus não podem trazer a nova música do amanhã. A canção da nova primavera. A explosão do novo renascer.
Foi-se o tempo do belo Jesus Cristo, e depois foi-se também a época do grande Friedrich Nietzsche. O mundo precisou de ambos. Mas agora é uma nova época. O grande dia onde ambos estarão juntos abraçados dançando e espalhando a nova fragrância do ser humano total. O fim da guerra. Chegou o tempo da reconciliação. Chegou o tempo do novo renascer. Eu já escuto o seu cantar nas flores que estão brotando. Já não há como deter a nova primavera.
quarta-feira, 20 de abril de 2011
Quando o louco começa a falar ...
quarta-feira, 13 de abril de 2011
E finalmente ... amor
-Você ainda não percebeu? Não está sentindo esse aroma que está aqui no ar agora?
-Eu percebi que havia algo diferente. Mas tive medo de acreditar que havia chegado a hora.
-Porém a hora chegou meu caro amigo. Hoje finalmente falaremos sobre o amor.
-Mas porque exatamente sobre o amor?
-Porque eu já cansei de falar sobre todo o resto.
-Não é possível. Logo você que gosta tanto de seus discursos sobre os humanos, revoluções, o universo, sobre a vida.
-Desculpe se o meu atual estado te perturba meu caro amigo. Acontece que chegou a hora. Será que você não consegue entender isso? Tudo que veio antes foi uma preparação. Foi um treino.
-Como assim?
-Revoluções? Revolucionar o quê? Como pode alguém depois de uma bela noite de amor pensar em querer mudar alguma coisa? E que tipo de revolução poderia ser mais bela do que uma linda noite de amor?
-Há algo muito diferente em você hoje.
-Sim, eu já te disse que chegou a hora. Hoje eu falarei sobre o amor.
-Eu já tive medo de suas palavras antes, mas nunca como hoje.
-Não há problema meu caro amigo. As pessoas temem o amor. Eu sempre temi o amor. Por isso que eu precisava sempre estar falando sobre guerras e sobre outras insanidades. Eu poderia falar sobre essas coisas durante a vida inteira. Durante muitas vidas inclusive se esse fosse o caso. Mas o que eu posso fazer hoje? Finalmente chegou a hora.
-E como você sabe que chegou a hora?
-Será que você não consegue ver?
-Ver o que?
-Que ela esteve aqui.
-Ela quem?
-Ela!
-Mas não poderia ter sido outra?
-Caro amigo, a vida não conhece "poderias". A vida simplesmente é o que ela é. E foi ela quem esteve aqui, e não outra.
-Mas o que você viu nela?
-Você ainda não entendeu. O que eu vi não foi nela, foi ela.
-Mas o que ela fez?
-Não foi o que ela fez, foi o que ela é.
-Então me diga, quem ela é?
-E como poderia eu responder a uma pergunta dessas? Como colocar em palavras o que nem mesmo os sentimentos mais transcendentes de meu coração conseguem entender direito?
-Mas porquê você a ama?
-Meu querido amigo, o amor não vem do conhecimento, não vem da compreensão. A mente nunca será capaz de amar. O amor vem de outro lugar. Ele vem do desconhecido. Ele vem da aventura do viver sem saber. Eu não faço ideia do porque a amo. Apenas sei que a amo.
-Você está louco! Por acaso você já parou para pensar no que você está falando?
-E como pensar sobre o que eu estou falando? O amor vem da vida. Ele vem do todo. Ele é muito maior do que o que eu posso compreender. Eu sou apenas uma parte. E como pode a parte querer entender o todo? O todo é muito maior. O todo é o todo.
-Não entendo nada do que você está falando.
-Não há problema algum. Eu tampouco o entendo.
-Mas então porque você fala?
-Por acaso já não te falei que hoje finalmente chegou a hora? A hora de falar sobre o amor? E como poderia eu falar sobre o amor, experimentar o que é o amor, se ainda houvesse dentro de mim algum desejo em compreender alguma coisa?
-Devo confessar que há beleza nisso que você diz.
-Eis a vida daquele que se liberta do desejo da verdade, do desejo do saber, do desejo de estar certo. Quando desaparece a busca pela verdade, pela compreensão do que é a vida, então a única coisa que resta é a própria vida. E o que é a vida senão apenas amor? E onde mais poderia haver algum tipo de beleza senão no amor?
-Não te entendo, mas gosto do que você me diz.
-Esse é o caminho meu caro amigo.
-Há amor nas suas palavras.
-Não posso evitar. Pois como eu te disse. Hoje finalmente chegou o dia. O dia de falar sobre o amor.
segunda-feira, 4 de abril de 2011
O menino que escrevia
Alguns falavam que ele escrevia simplesmente por desabafo. Mas o que acontece com quem guarda suas angustias para si? Ele precisava se livrar de muita coisa. Haviam muitas coisas nele que no fundo não eram dele, estavam lá apenas emprestado. E tudo que se pega emprestado uma hora a gente acaba tendo que devolver.
E ele crescia e a necessidade de escrever ia cada vez aumentando mais e mais. A vida havia começado a parecer coisa de gente grande, e obviamente isso o assustava imensamente. Havia algo nele que sabia que esse tipo de vida que as pessoas levavam não era uma vida para ele. Ele precisava de algo mais. Ele precisava de algo além. A vida tinha que ser mais. E foi então que o lápis e o papel ficaram ainda mais e mais importantes. Quem sabe através daqueles incontáveis textos a vida não teria uma maneira de em algum lugar mandar alguma mensagem escondida?
E a escrita continuou e continuou. Gritos de ódio, palavras de amor, choros solitários, gargalhadas de alegria. Não havia outro jeito. A vida trazia todas essas coisas para ele. E o que ele poderia fazer contra a vida? Com o seu lápis na mão ele era capaz de lutar contra tudo e contra todos. Inclusive contra o próprio Deus. Mas nunca contra a vida. Isso ele no fundo nunca negou. Por mais que ele quisesse fugir por algum tempo, aquelas fugas eram no fundo apenas para recuperar o fôlego.
E foi então que algumas pessoas começaram a perceber que o que ele escrevia na verdade era até interessante. Era ainda um menino tentando se encontrar, mas ali alguns já começaram a ver que brotava uma semente de algo diferente. De algo que nem mesmo eles entendiam muito bem o que era. Algo que inclusive muitos temiam por não saber qual seria o fim daquilo tudo. Mas ele não se preocupava muito com essas coisas de fim, pois mesmo naquela época ele já sabia que a vida nunca coloca fim a nada, ela sempre continua. Ela muda, assume outra forma, outro gosto, outra cor, mas sempre continua de algum jeito.
Os seus textos começaram então a ficar mais profundos, mais gostosos, mais ardentes, mais poéticos algumas vezes, mais insanos, mais perigosos. A medida em que ele avançava na vida, as suas verdades ficam cada vez mais intensas, mais fortes. E foi então que ele percebeu que havia algo nele que ele poderia compartilhar com o mundo. Havia algo nele louco para ser compartilhado com o mundo. A vida queria gritar através dele. E mesmo em seus momentos de insanidade a vida mesmo assim ainda queria gritar através dele, pois quem disse que a vida não possui lindas loucuras dignas de serem compartilhadas?
Agora ele já não podia mais parar com aquilo. Era mais forte do que ele. Agora o escrever era parte de sua alma. Parte do seu próprio desejo de viver. Essa era sua arte. Essa era sua inspiração. Agora cada vez que escrevia se sentia mais perto da existência. Mais perto de si mesmo. E estranhamente até mesmo mais perto das pessoas. Mais perto da humanidade. Escrever era ao mesmo tempo um refúgio da realidade nos momentos difíceis e a maneira mais fácil de retornar a ela em momentos de calmaria. Sem a escrita a vida não tinha tanta cor. Escrever alimentava a alma. E quem disse que só o corpo necessita de alimento?
Uns diziam que ele queria agora criar uma nova crença. Trazer uma ideia nova. Ter os seus próprios seguidores. Mas ele nunca ligou muito para isso. No fundo ele nunca escreveu para ninguém além dele mesmo. Ele nunca escreveu para mudar o mundo. Talvez tenha o feito no início, mas que menino quando jovem não sonha em mudar o mundo? Ele se divertia escrevendo, ele ria escrevendo, ele chorava escrevendo. O seu escrever não tinha um propósito fixo, cada dia era por uma razão diferente. E na maioria das vezes até mesmo não havia razão nenhuma. Escrever era viver. Era esquecer da vida, era lembrar da vida. Era entender a vida para descobrir depois que a vida não podia ser entendida. E ele escrevia, escrevia e escrevia ... Para onde será que ele ia? Para onde será que o escrever o estava levando? Ele ainda não sabia, e nem mesmo se importava tanto assim, ele continuou simplesmente fazendo o que ele sempre fazia, ele escrevia, escrevia e escrevia ...
terça-feira, 15 de março de 2011
O dia da grande festa
E as pessoas não paravam de subir. Elas vinham de todos os cantos. Uma enorme festa estava tomando forma. Inclusive as estrelas no céu haviam percebido e naquela noite brilhavam com uma intensidade nunca vista antes. Era como se a lua chorasse por jamais ter visto tão bela cena. A própria noite não parecia mais noite. Não se sabia se era noite ou se era dia. Ambos pareciam iguais naquele momento.
E nisso veio o guerreiro e o pacifista. O guerreiro havia percebido que a suas guerras no fundo eram apenas para descarregar a guerra que ele carregava dentro de si mesmo, e o pacifista percebeu que exigir paz de um guerreiro era uma violência tão grande quanto a própria guerra.
Atrás deles vinham o fascista e o anarquista. O fascista agora entendia que seu ódio à liberdade individual, que o seu ódio ao anarquista, nada mais era do que ódio que tinha por si mesmo por não se permitir gozar a vida da maneira que sua alma pedia, e o anarquista entendeu que o seu ódio ao fascista nada mais era do que o ódio que tinha pelo seu fascista interior que insistia em controlar aos outros e a si mesmo através de uma moral da liberdade.
E assim veio o belo e o feio, o bom e o mal, o forte e o fraco, o preguiçoso e o trabalhador, o inteligente e o burro, o pobre e o rico, Deus e o Diabo. Todos vinham abraçados por terem percebido que o combate que travavam entre si nunca havia de fato sido entre si, mas sempre contra si mesmos. O que não aceitavam no outro, no fundo era algo que não aceitavam em si mesmos. Quando um se libertou então o seu oposto, o seu irmão, o seu igual, também se libertou, se tornaram um só, e com isso estavam agora leves o suficiente para subir ao topo da montanha.
Foi então que raios de sol começaram a surgir entre as estrelas. A noite estava já ensolarada. O ar que nos envolvia estava diferente. E foi nesse momento que levei a maior surpresa de minha vida. A montanha na qual vivia já não me parecia mais tão alta, e o mundo lá em baixo na realidade não estava mais "lá embaixo". Foi então que eu também percebi algo. A montanha nunca havia de fato existido. Nós sempre havíamos sido iguais. E com isso agora era eu que estava leve o bastante para me juntar as pessoas do mundo e finalmente celebrar com eles a nossa festa. A grande festa.
segunda-feira, 14 de março de 2011
Discurso sobre a crueldade e algo mais
O Diabo não existe separadamente de Deus. Eles são duas partes de uma única coisa. A guerra entre céu e inferno só existirá enquanto existir a separação entre Deus e o Diabo. O dia em que eles se tornarem um só, o dia em que eles deixarem ambos de ser bebês chorões e acordarem para a vida, para a realidade de que eles são irmãos muito próximos, quase gêmeos, aí então toda essa maluquice de corpo e espírito desaparecerá.
Espiritualidade é o nome que se dá para a covardia daquele que quer fugir da vida. Espiritualidade nada mais é do que um profundo desejo de se cometer suicídio. A vida não impõe separação nenhuma. Quem quiser ser digno da vida terá que se encontrar com ela cara a cara. E não fugir dela.
Se a vida te traz violência e crueldade é para que você veja o que você tem dentro de si e que você esconde de si mesmo no fundo de sua alma. As maiores atrocidades já cometidas até hoje não foram sempre cometidas em nome do amor ao próximo? Em nome de um Deus de amor infinito? Em realidade, pode existir violência maior do que achar que o próximo precisa do seu amor? Ou melhor dizendo, pode existir violência maior do que achar que isso que você chama de amor seja digno de alguma coisa?
No fundo, o que é isso que você chama de amor senão medo, insegurança e covardia? Medo de ser odiado. Insegurança por temer descobrir que você não vale nada para ninguém, já que você não vale nada para si mesmo. Covardia de assumir ser quem você realmente é.
Geralmente se esconde tudo aquilo que a moral nega, e esse é o maior dos crimes contra a vida. Pois quase sempre, aquilo que rejeitamos em nós mesmos é justamente o que nos tornaria almas mais nobres, seres mais dignos da vida. O que você menos aceita em si mesmo, normalmente é o que de melhor há em você.
Trechos de Crepúsculo dos Ídolos de Friedrich Nietzsche
- Hoje já não temos mais nenhuma compaixão pelo conceito de "vontade livre": sabemos muito bem o que ele é - o mais suspeito artifício dos teólogos que existe; um artifício que tem por objetivo fazer com que a humanidade se torne "responsável" à moda dos teólogos, isto é, que visa fazer com que a humanidade seja dependente deles... Eu ofereço aqui apenas a psicologia de toda e qualquer atribuição de responsabilidade. - Onde quer que as responsabilidades sejam procuradas, aí costuma estar em ação o instinto de querer punir e julgar. Despiu-se o vir-a-ser de sua inocência, quando se reconduziram os diversos modos de ser à vontade, às intenções, aos atos de responsabilidade. A doutrina da vontade é inventada essencialmente em função das punições, isto é, em função do querer-estabelecer-a-culpa. Toda a psicologia antiga, a psicologia da vontade, tem seu pressuposto no fato de que seus autores, os sacerdotes no topo das comunidades antigas, queriam criar para si um direito de infligir penas - ou queriam ao menos criar um direito para que Deus o fizesse... Os homens foram pensados como "livres", para que pudessem ser julgados e punidos - para que pudessem ser culpados. Conseqüentemente, toda ação precisaria ser considerada como desejada, a origem de toda ação como estando situada na consciência (- com o que a mais fundamental fabricação de moedas falsas transformou-se, no interior do psicologicismo, em princípio da própria psicologia...). Hoje, quando adentramos o movimento inverso, quando nós imoralistas buscamos novamente com toda força sobretudo retirar do mundo o conceito de culpa e o conceito de punição, purificando destes conceitos a psicologia, a história, a natureza, as instituições e as sanções comunitárias, não há em nossos olhos nenhum antagonismo mais radical do que o em relação aos teólogos que continuam a infectar a inocência do vir-a-ser com as noções de “punição” e "culpa", a partir do conceito de "ordem moral do mundo". O cristianismo é uma metafísica de carrasco...
Qual pode ser nossa única doutrina?
- Que ninguém dá ao homem suas propriedades; nem Deus, nem a sociedade, nem seus pais e ancestrais, nem ele mesmo (- o contra-senso da representação, aqui por fim recusada, é ensinado por Kant, e talvez mesmo já por Platão, como "liberdade inteligível"). Ninguém é responsável em geral por ele existir, por ele ser constituído de tal ou tal modo, por ele se encontrar sob estas circunstâncias, nesta ambiência. A fatalidade de sua existência não pode ser separada da fatalidade de tudo o que foi e de tudo o que será. O homem não é a conseqüência de uma intenção própria, de uma vontade, de uma finalidade. Com ele não é feita a tentativa de alcançar um "ideal de homem" ou um "ideal de felicidade" ou um "ideal de moralidade". - É absurdo querer fazer rolar sua existência em direção a uma finalidade qualquer. Nós inventamos o conceito de "finalidade": na realidade falta a finalidade... É-se necessariamente, se é um pedaço de fatalidade, se pertence ao todo, se está no todo. Não há nada que pudesse julgar, medir, comparar, condenar nosso ser, pois isso significaria julgar, medir, comparar, condenar o todo... Mas não há nada fora do todo! Que ninguém mais seja responsável, que o modo de ser não possa ser reconduzido a uma causa prima, que o mundo não seja uma unidade nem enquanto mundo sensível, nem enquanto "espírito": só isso é a grande libertação. - Com isso a inocência do vir-a-ser é restabelecida... O conceito de "Deus" foi até aqui a maior objeção contra a existência... Nós negamos Deus, negamos a responsabilidade em Deus: somente com isso redimimos o mundo.