quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Carta para a humanidade


Ó minha querida humanidade, meus queridos seres humanos, seres que na maioria dos vezes os odeio, seres que não me deixam em paz, que querem me transformar em uma cópia, em uma ovelha. Hoje eu vos falo do fundo do meu coração, apesar de tudo eu gosto de vocês. Apesar da insuportável mediocridade que se fantasia de prepotência, da covardia que acredita ser sensatez, do egoísmo injustamente condenado a repreensão, apesar disso tudo hoje eu amo vocês.

Há algo nos seres humanos que é divino. Algo que não tem nada a ver com esse Deus criado pela fantasia e pelo medo da vida que as pessoas tem, mas algo divinamente humano, ou humanamente divino, algo que os homens insistem em tampar os olhos para não ver. Algo que não transformaria os humanos em santos em hipótese nenhuma, é algo que só consegue ver a pessoa que olha para si mesma como é, como um humano cheio de defeitos, cheio de incertezas, cheio de desejos, um humano com ânsia de viver humanamente. Esse ser encontra esse algo, e é por causa dele que hoje eu escrevo à todos vocês.

Esses humanos não foram criados especiais, na verdade eles não tem nada de incomum, pois são apenas humanos, assim como vocês. A diferença é que ele consegue se ver, já vocês não sabem quem são. Quando vocês escolheram virar santos, quando quiseram tomar a estrada da perfeição, vocês se perderam, vocês nunca mais conseguiram se olhar em um espelho, vocês passaram a ter nojo do que há de mais nobre e bonito em vocês que é a humanidade intrínseca a sua existência. Vocês viraram ao avesso, são humanos ao contrário, são sofredores que vagam no mundo tendo que carregar o fardo que é a vida.

Mas vos direi a verdade, mesmo a vocês eu os amo, mesmo aos cegos da alma eu os amo, pois mesmo que vocês estejam com os olhos fechados sem querer enxergar nada além do seu Deus tirano, o universo clama pela suas existências. Quando vocês choram todo o cosmos chora com vocês, quando vocês se reprimem todo o universo se reprime com vocês, quando vocês escolhem não mais se conhecerem o universo passa também a não mais saber quem é. E é por isso que estou aqui hoje, para pedir que vocês abram os olhos e vejam quem vocês são, não se culpem por serem humanos pois é exatamente isso que os tornam divinos, não tenham medo de dançar porque quando vocês dançam o universo inteiro entra no ritmo de suas músicas, quando vocês riem a natureza toda dá gargalhadas ao mesmo instante. Não tenham medo do desconhecido, pois apenas o que é desconhecido é que serve para manter a beleza da vida. Sintam gosto pelo incerto, pois a certeza os tornam feios. Não acreditem em nada, experimentem tudo, experimentem a vida que está aí fora aguardando por vocês. Não combatam o ser humano lindo que há dentro de vocês louco para finalmente ser humano sem se sentir culpado por isso. Amem a vocês mesmos, exatamente do jeito que vocês são e subitamente vocês verão que todo o universo os ama do mesmo jeito, na verdade ele sempre os amou assim, vocês é que não queriam ver. O universo nunca os julgou, ele nunca apontou o dedo para a cara de vocês, ele nunca criou nenhuma moral, isso tudo foi obra dos cegos de espírito.

Mas os tempos em breve serão outros, finalmente não será mais época de Santos, talvez até mesmo Deus possa finalmente ser esquecido e sumir de vez da cabeça das pessoas, finalmente talvez o ser humano consiga olhar para si mesmo sem máscaras e ver a verdade que sempre esteve nele, a beleza que sempre esteve nele, a sua humanidade reprimida. Talvez o ser humano possa enfim se tornar o Deus de sua própria vida, o dono de sua própria moral e o criador de sua própria verdade.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Trecho de "O profeta" de Kahlil Gibran


Sobre as leis

Então um homem de leis disse, e as nossas Leis, Mestre?
E ele respondeu:
Deleitais-vos a fazer as leis, no entanto, mais vos deleitais em as desrespeitar.
Como crianças brincando junto ao oceano, a construir castelos de areia com persistência para logo os destruírem alegremente.
Mas enquanto construís os vossos castelos de areia o oceano traz mais areia para a costa, e, quando vós os destruís, o oceano ri-se convosco.
Na verdade o oceano ri-se sempre com os inocentes.
Mas que dizer daqueles para quem a vida não é um oceano, e as leis feitas pelo homem não são castelos de areia, mas para quem a vida é uma rocha, e a lei um cinzel que serve para a moldarem à sua semelhança?
Que dizer do aleijado que detesta dançarinos?
Que dizer do boi que gosta do jugo e condena o cisne e o gamo da floresta por serem seres errantes e vagabundos?
Que dizer da velha serpente que não consegue despir-se da sua pele e acusa os outros de estarem nus e não terem pudor?
E daquele que aparece cedo na festa do casamento, e que, depois de bem alimentado e já cansado, se vai embora dizendo que todas as comemorações são violação e os participantes violadores de leis?
Que poderei dizer desses a não ser que também eles estão expostos à luz, mas de costas viradas para o sol?
Só conseguem ver as suas sombras, e as suas sombras são as suas leis.
E que é o sol para eles senão um conjunto de sombras?
E o que significa reconhecer as leis senão curvar-se e traçar as suas sombras na terra?
Mas vós, que caminhais enfrentando o sol, que imagens da terra podereis reter?
Vós, que viajais com o vento, que catavento poderá orientar o vosso rumo?
Que lei do homem vos prenderá se quebrais o vosso jugo longe da porta da prisão?
Que leis receareis se dançardes mas tropeçardes em grilhetas inexistentes?
E quem vos poderá julgar se despedaçardes as vossas roupas sem todavia as deixardes no caminho de nenhum homem?
Povo de Orfalés, podereis abafar o tambor e alargar as cordas da lira, mas quem poderá impedir a cotovia de cantar?

terça-feira, 29 de setembro de 2009

As utopias, o anarquismo e a tragédia que é a existência humana


As crenças que nos são ofertadas, principalmente aquelas que são idealistas, ou porque não dizer utópicas, geralmente apresentam um aspecto em comum. Elas são muito mais baseadas nos nossos desejos a respeito do que queremos que seja real do que no que de fato é real. Elas normalmente nos dão respostas para questões existenciais da vida que por coincidência são exatamente as respostas que gostaríamos de ter. Para exemplificar podemos pensar por exemplo no cristianismo e no comunismo que a princípio são duas crenças bastante antagônicas, porém, se formos analisar mais a fundo, podemos ver que ambas vendem uma ilusão bastante parecida. A única diferença é que o que o cristianismo oferece no céu, o comunismo oferece na terra.
O reino de Deus é a resposta que o cristão deseja frente ao sofrimento que encontra na vida, pois como aqui ele é oprimido, infeliz, injustiçado e acima de tudo impotente em mudar o destino trágico que está fadada a ser a sua existência, o reino dos Céus passa a ser exatamente a compensação que ele tanto deseja por ter passado por tanta desgraça, é a vida em harmonia, em paz e com amor que ele sempre sonhou em ter e que sabe que jamais a terá aqui, é também a sua oportunidade de vingança contra aqueles que o oprimiram e o injustiçaram, pois muitos serão chamados e poucos os escolhidos, e certamente os escolhidos para a vida de amor eterno ao lado de Deus serão apenas os cristãos sofredores, e não os seus algozes a quem esses cristãos sempre desejaram a morte, porém sempre com tremenda impotência de realizá-la. O reino do Céus é a vingança do fraco e oprimido a tanto tempo por ele esperada, a tanto tempo por ele desejada.
Nesse sentido a sociedade vendida pelo comunismo é muito semelhante ao reino dos céus do cristão. O comunista tem a crença de que através dessa ideologia ele poderá construir aqui na terra uma sociedade onde as pessoas vivam em harmonia, em paz, sem opressão e o mais importante sem patrões. O comunismo é exatamente a resposta que o proletário sempre quis ter na vida, é o que ele sempre desejou, é a vingança final contra os burgueses exploradores e os malvados chefes, pois ao reino de Marx também muitos serão chamados e poucos os escolhidos, e obviamente apenas os proletários oprimidos serão os escolhidos, um burgues jamais entrará nesse reino.
Essas duas ideologias cresceram mundialmente e tiveram uma aceitação enorme em todos os lugares nos seus respectivos públicos alvos. Isso se deve principalmente a elas terem vendido exatamente o que as pessoas queriam ouvir, exatamente o que as pessoas sempre quiseram viver, é uma ilusão, porém uma ilusão que tocou profundamente nos desejos mais reprimidos de muita gente. Por ser uma ilusão é que os comunistas, e principalmente os cristãos que nisso são pródigos, muitas vezes negam completamente a realidade das coisas, negam a história e a razão, negam tudo que é possível negar em troca de poderem continuar acreditando na ilusão que é a sua vitória final, ou melhor dizendo, a sua vingança final. Por negarem a realidade trágica em favor de uma mentira boa é que ambos já cometeram tantos crimes ao longo de suas respectivas histórias. Nesse aspecto que diz respeito a semear a morte, o cristianismo ainda leva ampla vantagem, principalmente devido a ele existir a mais tempo, porém, os comunistas se não mudarem alguns conceitos fundamentais um dia também chegarão lá.
Ao ler esse texto você pode estar pensando agora que ao criticar o comunismo eu esteja fazendo um elogio ao capitalismo. Porém, você não poderia estar mais enganado. Eu não quis comparar o capitalismo com o comunismo ou com o cristianismo pelo fato de que eu não considero o capitalismo como uma utopia, pra mim ele é simplesmente uma estupidez, uma idiotice sem tamanho, pois através dele não dá nem para se imaginar a possibilidade de se ter uma sociedade harmônica, pacífica, e com bem estar social. O capitalismo é a destruição humana por excelência, ele se baseia na concorrência, coloca todos contra todos o tempo todo, obriga o que tem mais a precisar ter cada vez mais, ou seja, os obriga a explorar os outros cada vez mais. O capitalismo faz o pobre viver uma vida de medo permanente por causa da fome, e ao mesmo tempo obriga o rico a viver também uma vida de constante medo por causa do esfomeado. Um ganha quando o outro perde. O pobre tem desgosto da vida porque não tem esperança de algo melhor, o rico também tem desgosto da vida pois junto com o seu sucesso veio o incessante medo de perde-lo e também a necessidade de o ter cada vez mais, muitas vezes se enriquece sem nem mesmo saber o porque, simplesmente porque as coisas funcionam assim. A vida do pobre é materialmente uma desgraça, e a do rico humanamente um vazio. Basta olhar para a nossa sociedade que vemos que o número de casos de depressão e suicídio não param de subir. Por isso que não faz sentido comparar o capitalismo a essas outras crenças, simplesmente porque ele já nos seus fundamentos básicos não tem nada de bom a oferecer para ninguém.
Voltando agora as questões das utopias, das ilusões, você deve então estar se perguntando como é que pode um anarquista estar fazendo críticas à crenças utópicas. Realmente a sua preocupação tem fundamento, e faz muito sentido pensar assim, pois a maioria dos anarquistas de fato é extremamente idealista, muitos deles crêem infantilmente que se o Estado desaparecer então teremos uma sociedade organizada, sem crimes, onde as pessoas sejam felizes, onde elas se amem e se ajudem mutuamente. É uma ilusão muito parecida com a de Marx, e porque não dizer também com o reino de Deus? Este tipo de anarquismo eu também o coloco na mesma sacola das outras ilusões, é apenas um desejo reprimido de ser livre, pois até hoje em toda a história da civilização nunca houve liberdade plena de fato. Já houve liberdade para o mercado, porém nunca para os seres humanos.
Entretanto, o anarquismo pode ser entendido de outra forma, não necessariamente como a busca por uma sociedade perfeita, bem organizada e feliz, ele pode e eu o vejo como sendo a busca por uma sociedade também desordenada, trágica, cheia de problemas e sofrimentos, porém uma sociedade que simplesmente é melhor do que essa desgraçada que agente vive hoje. Não necessitamos alimentar esperanças ilusórias de que criaremos uma sociedade perfeita na terra, isso simplesmente não dá para ser feito agora, existir é uma tragédia e por enquanto não dá para fugir disso. As pessoas que tem a coragem de serem sinceras consigo mesmas percebem o que eu estou falando, que o sofrimento causado pela vida em sociedade, pela vida civilizada é por enquanto inevitável. Apenas os covardes que passam a vida inteira mentindo para si mesmos é que podem ter a falsa impressão de que a coisa não é assim, passam a vida inteira fingindo que são plenamente felizes, porém os pesadelos noturnos e o medo da solidão, ou seja o medo de estar a sós consigo mesmo os entrega e os mostra o tamanho de sua miséria.
Na anarquia haveria sofrimento, haveriam assassinatos, roubos, e todos os tipos de problema. Você deve então estar se perguntando por que diabos querer essa anarquia. É simples, pois o fato de viver ser uma tragédia não significa que não possamos rir da vida, que não possamos tentar algo que seja de fato melhor do que isso que temos hoje, e para mim a anarquia representa isso, essa ultima tentativa de algo melhor, de algo mais livre, pois ao longo de toda a história da humanidade o Estado e as leis sempre se mostraram incapazes de impedir os assassinatos, os roubos, as torturas, e inclusive muitas das vezes foi o próprio Estado que causou essas coisas, talvez até mesmo na maioria das vezes. A questão é que o Estado é a maior ilusão de todas, pois sempre foi visto como necessário para proteger os seres humanos de si mesmos, entretanto, ele claramente falhou em sua missão. Ele institucionalizou o assassinato, o roubo, a tortura. Portanto, querer a extinção do Estado, e se possível também das outras instituições de poder, ou seja, querer a anarquia, não quer dizer ter a esperança de viver em uma sociedade perfeita, simplesmente quer dizer uma nova tentativa de algo melhor, onde de alguma forma haja mais liberdade para ser si mesmo, e assim não precisar fingir ser outra pessoa. É uma tentativa de tornar a existência mais suportável, e porque não dizer também mais feliz? É apenas uma nova tentativa, na qual obviamente há a possibilidade do fracasso. Não há garantias de que de fato essa sociedade livre vá ser realmente melhor do que a que temos hoje, porém há motivos para crer que devamos ao menos tentar. Quem sabe a liberdade humana não seja capaz de resolver alguns problemas que Estado nenhum conseguiu até hoje resolver? Se a história futura nos mostrar que a anarquia foi uma fracasso, que não passou apenas de mais uma utopia e que não há nenhuma possibilidade da existência não ser uma tragédia total, então que reergamos os Estado, que sejamos outra vez comunistas, capitalistas, ou melhor ainda que voltemos a crer no reino de Deus. Porém, se a história nos mostrar o contrário, e algumas experiências como por exemplo a guerra civil espanhola de alguma forma nos faz acreditar nisso, então que sejamos anarquistas, que matemos de vez esse monstro que é o Estado, que sejamos livres para poder construir o ser humano do futuro, um ser humano que possa finalmente rir da tragédia que é a vida.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Trecho de genealogia da moral de Friedrich Nietzsche


Alguém quer descer o olhar sobre o segredo de como se fabricam ideais na terra? Quem tem a coragem para isso?... Muito bem! Aqui se abre a vista a essa negra oficina. Espere ainda um instante, senhor Curioso e Temerário: seu olho deve primeiro se acostumar a essa luz falsa e cambiante... Certo! Basta! Fale agora! Que sucede ali embaixo? Diga o que vê, homem da curiosidade perigosa - agora sou eu quem escuta.

- "Eu nada vejo, mas por isso ouço muito bem. É um cochichar e sussurrar cauteloso, sonso, manso, vindo de todos os cantos e quinas. Parece-me que mentem; uma suavidade visguenta escorre de cada som. A fraqueza é mentirosamente mudada em mérito, não há dúvida - é como você disse."

- Prossiga!

- "e a impotência que não acerta contas é mudada em 'bondade'; a baixeza medrosa, em 'humildade'; a submissão àqueles que se odeia em 'obediência' (há alguém que dizem impor esta submissão - chamam-no Deus). O que há de inofensivo no fraco, a própria covardia na qual é pródigo, seu aguardar-na-porta, seu inevitável ter-de-esperar, recebe aqui o bom nome de 'paciência', chama-se também a virtude; o não-poder-vingar-se chama-se não-querer-vingar-se, talvez mesmo perdão ('pois eles não sabem o que fazem - somente nós sabemos o que eles fazem!'). Falam também do 'amor aos inimigos' - e suam ao falar disso."

quarta-feira, 15 de julho de 2009

O paraíso


Hoje eu sonhei com o paraíso. Acordei e li no jornal que o capitalismo havia morrido de vez, já não existiam burgueses, nem oligarquias. Já não havia Estado também, as pessoas haviam simplesmente percebido que ele nunca tinha sido de fato necessário. Saí as ruas e vi as casas que serviam à especulação sendo ocupadas por humanos. Vi as pessoas pintando os muros retratando suas loucuras interiores sem nenhum policial os perseguindo por atentado contra o patrimônio. Melhor do que isso, me dei conta de que já não haviam policiais. Ao invés de eucalipto estavam agora plantando comida de gente, e não de empresário. Vi que as igrejas estavam vazias, pois o ser humano agora tinha amor próprio, não precisava mais de um ser superior de amor infinito. Os jornalistas já não estavam engravatados, e na televisão quase não tinha notícia vinda dos Estados Unidos. A rede globo havia saído ar. Os professores viraram alunos, pois começaram a aprender o ensinar. As escolas deixaram de ser quadradas, pois parou-se de ensinar o escravizar das mentes. Inúmeras pessoas choravam incessantemente por sentir pela primeira vez sua liberdade a tanto tempo reprimida, outras o faziam simplesmente por finalmente poder chorar sem precisar de uma razão para isso. Coloquei a mão no bolso e vi que não havia mais dinheiro, mas já não fazia diferença, pois ter dinheiro havia perdido o sentido, ele era agora apenas um pedaço de papel e não mais a base da existência humana. Na cidade apareceram esculturas bizarras, as ruas agora estavam repletas de poesias sem aparente significado. Felizmente agora as coisas não mais precisavam ter um significado. Finalmente podíamos delirar em paz, podíamos ser loucos sem ter medo. Havia teatro de rua em todas as partes, no lugar dos shopping centers tínhamos agora feiras ao ar livre, a música estava em todo lugar. Finalmente eramos livres para não mais ter que amar ao próximo como a nós mesmos. Amávamos somente àqueles que queríamos, e mesmo assim, nunca como a nós mesmos.
Depois de um dia inesquecível na minha cidade do paraíso voltei pra casa para dormir e para louvar ao ser humano. Infelizmente, depois de dormir eu acordei.

sábado, 11 de julho de 2009

La anarkiisto kaj la demokrato



Demokrato: Saluton! Mi havas donacon por vi.
Anarkiisto: Kio ĝi estas?
Demokrato: Ĝi estas la plej bona afero el la mondo.
Anarkiisto: Sed, kio?
Demokrato: La demokratio.
Anarkiisto: Ĉu vere?
Demokrato: Jes, kaj ĝi estos bonega por vi. Bonvole akceptu ĝin.
Anarkiisto: Mi pripensos pri la afero.
Demokrato: Ne, vi devas nepre akcepti.
Anarkiisto: Kial? Mi ne komprenas.
Demokrato: Ĉar ĝi estas la plej bona afero el la mondo.
Anarkiisto: Povas esti, sed malgraŭ tio, mi mem devas elekti ĉu akcepti aŭ ne.
Demokrato: Kompreneble ne.
Anarkiisto: Kial ne?
Demokrato: Ĉar ĝi estis demokratie elektita.
Anarkiisto: Sed ne gravas. Eble mi ne ŝatus ĝin.
Demokrato: Se vi ne akceptas demokration, do vi estas diktatoro.
Anarkiisto: Kompreneble ne. Mi volas trudi nenion al iu. Mi nur volas regi mian propan vivon.
Demokrato: Diktatoro!
Anarkiisto: Ne! Vi estas la diktatoro. Vi volas trudi vian demokration al mi.
Demokrato: Ne, ne! Mi estas demokrato, kaj demokratio ne estas trudebla.
Anarkiisto: Do, mi ne volas ĝin.
Demokrato: Diktatoro! Vi estas minaco al la demokratio. Policistoj, malliberigu lin!
(Post kelkaj jardekoj, la anarkiisto mortis en la malliberejo. La demokratio finfine mortigis lin.)

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Irrepresentáveis


Meu amigos, não é nenhuma novidade que os políticos sejam, de maneira geral, corruptos e incapazes de resolver os nossos problemas. Isso é um fato praticamente inquestionável. Mas o que dizem os moralistas conservadores sobre isso? Eles sempre dizem que a culpa é do povo que não sabe escolher os seus repersentantes. Que se o povo fosse instruído, ele seria capaz de escolher políticos bons que cuidariam bem de nossos países e que assim não teríamos tantos problemas.
Senhores, não existe mentira maior do que essa, não acreditem nesses fanfarrões, primeiro porque quando eles falam isso, enchem o peito e o dizem se excluindo desse “povo que não sabe votar”, como se a culpa fosse dos outros que não votaram nos candidatos deles, como se os seus candidatos fossem mudar alguma coisa. Falam isso para não admitir para si mesmos que são tão incapazes e medíocres quanto a massa, querem se achar superiores, pobres coitados.
Mas a pior parte desse argumento é a idéia de que somos nós quem realmente escolhe nossos representantes. Isso é um absurdo tão grande que eu confesso que não entendo como as pessoas não conseguem perceber a estupidez desse pensamento. O ser humano é único, e apesar de apresentarmos semelhanças entre nós, somos todos direfentes. Pensamos diferentemente, nos vestimos de forma diferente, comemos coisas diferentes, sonhamos coisas diferentes, desejamos coisas difentes, acreditamos em coisas diferentes, e por aí vai. Só aqui no Brasil somos mais de 180 milhões de pessoas cada uma com suas particularidades e diferenças perante as outras. Dentro dessa diversidade toda se vem em época de eleições com uns 5 ou 6 candidatos, sendo que quase sempre apenas 2 ou 3 verdadeiramente participam da disputa, dizendo-se que devemos escolher o que vai nos representar. Nós somos obrigados a resumir toda a nossa diversidade em apenas uns 2 ou 3 modelos, que inclusive não fomos nós que escolhemos, mas que foram impostos em cima da gente como únicas opções. Eles já foram escolhidos, e tudo que podemos fazer é dizer: Quero esse ou aquele. Mas e se eu não quiser nenhum deles? E se eu não quiser essa forma de governo? E se eu simplesmente não quiser ser governado por ninguém? Eu tenho essa opção? Claro que não, a única escolha que eu posso fazer é entre os 2 ou 3 já escolhidos. Não posso fugir disso, não tenho esse direito. Eles me dão apenas essa mísera e ridícula capacidade de escolha e ainda querem que eu acredite que a culpa é minha por não escolher direito os meus representantes. Isso só pode ser uma piada de mau gosto.
Senhores, não sejamos mais idiotas, nós não podemos mais nos resumir simplesmente a alguns poucos modelos, nós somos muito mais do que isso. Chega de aceitar esses personagens sempre se impondo como nossas únicas opções, chega de acreditar que somos representáveis. Não, nós não o somos. Cada um tem desejos, idéias, vontades, crenças que não podem ser representadas por ninguém além de si mesmos. Sejamos livres para decidir o rumo de nossas vidas, sejamos livres para governar a nós mesmos, sejamos livres para criar nossa própria moral, sejamos simplesmente livres. A democracia representativa é uma ilusão que no fundo não passa de uma tirania disfarçada. Só não enxerga isso quem não quer.

terça-feira, 7 de abril de 2009

La voko



Al vi mi devas diri la veron
mi estas neniu imperiisto
mi ne plu eltenas la anglan
kaj tial mi iĝis esperantisto

Ĝi estas mia lingvo kara
la lingvo de la feliĉeco
ĝi apartenas al neniu lando
sed al la homa libereco

Homaro hodiaŭ mi vin vokas
ĉar ni devas ŝanĝi tiun aĉan mondon
tiu tasko ne estas facila
sed ni ankoraŭ havas la tutan estonton

segunda-feira, 9 de março de 2009

Nia lingvo / Nossa língua


Hodiaŭ mi volas rakonti personan sperton kion mi havis pri esperanto. Ĉi jare en januaro mi vojaĝis al mia najbara lando kiu nomiĝas Argentino kaj tie en kelkaj urboj mi gastis ĉe esperantistoj. Tio estis tre bona sperto por mi ĉar krom esperanto mi povis praktiki ankaŭ la hispanan kiu estas lingvo en kiu mi ankaŭ tre ŝatas paroli. Tie kiam mi kunsidis kun la esperantistoj kaj iliaj geamikoj, ni ofte babilis en esperanto, en la hispana kaj kelkfoje eĉ en la portugala. Mi tre ĝuis tian diversecon sed tie mi povis rimarki ion tre interesan favore al esperanto kiel internacia komunikilo.
Mi parolas la hispanan preskaŭ tiel bone ol kiel mi parolas esperanton, kaj uzante ĝin tie mi havis neniun gravan problemon por kompreni kaj esti komprenita. Tamen dum kiam mi parolis la hispanan kun la argentinanoj mi havis neeviteblan senton, mi ĉiam sentis min kiel eksterlandano. Tio ne okazis nur pro mia elparolo sed ankaŭ pro kulturaj kialoj ĉar por mi, kvankam mi tre ŝatas ĝin, la hispana ĉiam estos eksterlanda lingvo, kaj por la argentinanoj ĝi estas tute la malo. Tial nia babilado kompreneble ne okazis en egala nivelo.
La mirindaĵo okazis dum kiam ni babilis en esperanto, tiam tiu eksterlandana sento tute malaperis, tiam ne plu temis pri uzi mian aŭ ilian lingvon, sed temis pri uzi nian lingvon. Tiam ni ne plu estis homoj el malsimilaj landoj, ni estis samideanoj babilante en nia propra kaj komuna lingvo, ni estis egalaj. Tiam la vorto eksterlando subite malaperis el nia vortaro, kaj tiel mi povis feliĉe rimarki ke esperanto vere estas miraklo.

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Hoje eu quero contar uma experiência pessoal que eu tive com o esperanto. Esse ano, em janeiro eu viajei ao meu país vizinho que se chama Argentina e lá em algumas cidades eu fiquei hospedado com esperantistas. Essa foi uma experiência muito boa pra mim, pois além do esperanto eu pude praticar também o espanhol, que é uma língua na qual eu também gosto de falar. Lá quando eu me reunia com os esperantistas e seus amigos, nós geralmente conversávamos em esperanto, em espanhol e as vezes até mesmo em português. Eu adorei essa diversidade, mas lá eu pude perceber algo bem interesante em favor do esperanto como ferramenta de comunicação internacional.
Eu falo espanhol praticamente tão bem quanto eu falo esperanto, e usando-o lá eu não tive nenhum problema grave para compreender e ser compreendido. Porém quando eu falava espanhol com os argentinos eu tinha um sentimento que era inevitável, eu sempre me sentia como um estrangeiro. Isso não acontecia somente por causa da minha pronúncia, mas também por razões culturais, pois pra mim, apesar de eu gostar muito dele, o espanhol será sempre uma língua estrangeira, e para os argentinos ele é exatamente o contrário. Por causa disso as nossas conversas compreensívelmente não aconteciam em nível de igualdade.
O maravilhoso acontecia quando nós conversávamos em esperanto, nesses momentos esse sentimento de ser estrangeiro desaparecia completamente, nesses momentos não se tratava mais de falar a minha língua ou a língua deles, mas sim de falar a nossa língua. Nesses momentos nós não mais éramos pessoas de países diferentes, nós éramos coidealistas conversando em nossa própria e comum língua, nós éramos iguais. Nesses momentos a palavra estrangeiro subtamente sumia do nosso dicionário, e dessa forma eu pude felizmente perceber que o esperanto verdadeiramente é um milagre.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Mia dua esperanta poeziaĵo


Knabino el malproksime
...
En alia lando nun estas vi
tre fore de ĉio, tre fore de mi
mia korbato vin senĉese sopiras
kaj la pasio el mia animo al vi ĉiam iras
...
Via beleco estas neimitebla
via vizaĵo ne forgesebla
viaj okuloj min tuj pasiigis
kaj de via koro mi tuj enamiĝis
...
Ho mia karega knabino
kial estas vi tiel fore?
venu al mi forigi la doloron
kiu kuŝas profunde en mia koro
...
Knabino mi devas diri la veron
tiun distancon mi ne plu povas teni
ĉar sen vi ne estas feliĉec'
kaj sen vi malbona estus la estontec'
...
Pri vi mi ĉiutage pensas
vin mi deziras senlime
bonvole tuj venu al mi mia kara
knabino el malpoksime

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

A solução é destruir o planeta


Ultimamente tem-se conversado muito sobre a crise econômica mundial, e até por conta disso tem se dado pouca atenção à crise ambiental pela qual passamos agora. Como todos sabemos o meio ambiente está pedindo socorro já a algumas décadas, isso não é novidade nenhuma, e por mais que não queiramos aceitar essa realidade, inevitavelmente a destruição do meio ambiente significaria também a nossa destruição, portanto esse é um problema muito grave, que exige bastante cuidado.
Um olhar um pouco mais atento a essa questão nos mostra facilmente que uma das principais causas da destruição da natureza é o consumismo exagerado dos seres humanos, não apenas pela extração de matérias primas da natureza em si, mas por toda cadeia de problemas que inevitavelmente isso gera. Para se produzir alguma coisa se gasta energia, e quanto mais se quer produzir mais energia tem-se que gastar, e quase todas as formas de produção de energia que temos geram poluição, seja por emissão direta de poluentes ou seja por impactos ambientais devido a construção das usinas, e não há energia de sobra no planeta para que se possa aumentar a produção sem que novas fontes geradoras sejam construídas, a maioria dos países passa hoje também por uma crise energética, basta olhar por exemplo o caso do EUA que saí pelo mundo desesperadamente buscando fontes de energia em todo lugar, como o petróleo do Iraque e da Venezuela, e o etanol aqui do Brasil, para poder sustentar o consumismo irracional da sua população. Além da questão energética há também a questão das matérias primas utilizadas na fabricação dos bens de consumo, que muitas das vezes são bens não renováveis e que muitas vezes a sua extração causa danos irreparáveis ao meio ambiente, basta ver por exemplo a produção de celulose que necessita de grandes extensões de terras plantadas com eucalipto, que a longo prazo (as vezes não tão longo) acaba com a biodiversidade do local, tornando o solo muitas vezes infértil depois de algumas décadas. Outro problema causado pelo consumo excessivo é a produção de lixo. Na compra de coisas novas, as velhas acabam na maioria das vezes sendo descartadas, e mesmo que parte delas seja reaproveita ou reciclada, muita coisa acaba indo para o lixo, e o tratamento do lixo é algo muitas vezes difícil de se fazer e na maioria dos lugares é até inexistente. Não só o lixo tóxico proveniente de equipamentos eletrônicos e materiais químicos, mas todo tipo de lixo, até mesmo orgânico trás problemas para a natureza quando simplesmente despejado em algum lugar ou queimado em algum incinerador.
Eu poderia me estender um pouco mais aqui mostrando como o consumismo é ruim para o meio ambiente mas acho que isso não é tão necessário agora, até por ser algo um tanto quanto óbvio. Mas a conclusão a que eu quero chegar aqui não é essa, o que eu quero é mostrar a relação entre a crise econômica e a destruição da natureza. Nessa época de crise vemos os economistas, os empresários e os chefes de estado, dizendo que para minimizar os efeitos da crise é necessário evitar que a população deixe de comprar, ou seja, de consumir, pois a queda no consumo acaba gerando desemprego, que diminui o poder de compra da população, diminuindo o consumo e gerando mais desemprego, é uma bola de neve que tem que ser contida, e a solução para isso é tentar de alguma forma fazer com que a população tenha condição de continuar consumindo, ou pelo menos de não diminuir muito o seu consumo. Senhores, não precisa ser nenhum gênio para concluir daí que há uma contradição enorme entre minimizar a crise e preservar o meio ambiente. O capitalismo mais uma vez está em crise, o que não é nenhuma novidade, pois capitalismo e crise são como dois amantes que ficam juntos por uns anos, depois terminam mas após algum tempo acabam sempre voltando um para os braços do outro, o engraçado e assustador disso tudo é ver que a solução óbvia para se amenizar a crise é diretamente oposta a preservação do meio ambiente, ou seja, a salvação do capitalismo significa, nada mais nada menos, do que a destruição do planeta.