sábado, 23 de julho de 2011

Sinais de uma espiritualidade elevada

- Você é daqueles que ainda tem medo de obsessores ou já são os obsessores que tem medo de você?
- Você é daqueles que procura nos espíritos guias espirituais ou apenas companheiros de viagem?
- A sua espiritualidade faz de você um menino que precisa escutar dos outros o que fazer ou ela te torna um homem capaz de decidir as coisas por si só?
- Você é daqueles que roga por Jesus pedindo salvação ou daqueles que já percebeu que Jesus te ofendeu ao pensar que você precisava de alguém para ser salvo?
- Porém vale a pena ressaltar que não se pode culpar Jesus por causa disso. Pois afinal, ele não sabia o que estava fazendo.
- Você nega e reprime o seu corpo? Então você nega o presente mais sagrado que a existência te deu. Você é o pior tipo de ingrato que pode existir.
- A sua espiritualidade te faz negar a vida material ou ela é a aceitação e afirmação máxima dessa vida?
- A sua espiritualidade ainda te faz desejar um "outro mundo" ou ela já te faz afirmar "esse mundo"?
- Já é Deus o fruto daquilo que você cria ou ainda é você que foi criado por Deus?

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Caminhos para lugar nenhum

Estranho hoje é ver o nome do blog se chamar assim. Eu precisava disso anteriormente. Não dava mais para caminhar o caminho dos outros. Por isso precisei ver a vida sem nenhum caminho. Nada que era dos outros jamais me satisfez. A meditação no início me levou a esse ponto. O não-caminho. Me parecia que todos os caminhos de alguma forma eram caminhos que inevitavelmente me levariam de volta ao todo. Todos. As mulheres que eu amava, independente de quem eram, eram apenas caminhos de volta ao amor. Ao amor que flui em mim. Todos os caminhos eram caminhos. Não havia caminho pois todos eram caminhos. Tudo que eu fazia e tudo que acontecia eram apenas indicações de algo que eu tinha em algum lugar dentro de mim. Tudo era caminho para dentro de mim. E o que têm dentro de mim? Um eu? Ou um rio? Um rio chamado existência que flui sem cessar quando o eu some. Tudo de belo que eu já realizei nessa vida foi quando não havia um eu realizando. E foi então que vi que tudo já estava aqui. Tudo! Não havia caminho nenhum a ser seguido. Entretanto a meditação se aprofundou e algo me veio. Sim há um caminho. Existe uma estrada. Todos os caminhos levam a ela, isso ainda é verdade. Todo o universo é apenas uma desculpa para me mostrar algo em mim. Isso ainda é verdade. Porém, apesar de tudo ser desculpa, existem desculpas que são melhores do que outras. As mulheres são desculpas para me mostrar o amor que flui em mim. Porém existem desculpas que são muito melhores do que outras, e fazem o serviço de forma muito mais bela e eficaz do que outras. A existência é infinitamente sábia. E ela nos mostra a todo tempo caminhos que apesar de não serem o objetivo em si são maneiras de voltar ao todo. De voltar à existência. Não há caminhos ruins, todos são caminhos. Apenas acontece que alguns são melhores do que outros. Mas isso cada um tem que encontrar o seu. A relação de cada um com a existência é única. Ninguém pode caminhar pelo outro. Ninguém. A sua volta ao todo é uma relação única entre você e a existência. Só você pode saber o seu caminho. E só você pode caminhá-lo.

sábado, 9 de julho de 2011

Da liberdade

E lendo o Zaratustra do meu amigo Nietzsche me encontrei com a frase: "Livre de quê? Que importa isso a Zaratustra? O teu olhar, porém, deve anunciar−se claramente:  livre, para quê?". Esse foi o insight que mais me tocou em toda minha vida a respeito da liberdade. Livre para quê? Essa é a pergunta que devem se fazer todos os amantes da liberdade. Não pensar nisso foi o erro de todas as revoluções. Estão realmente as pessoas prontas para serem livres? Tem elas destino suficiente em seus olhos que possam guiá-las quando estiverem livres? Tem elas bravura suficiente para serem donas de seus próprios valores e julgamentos? Ou ainda necessitam de alguém que as diga o que é certo e errado? Chame esse alguém do que quiser, Estado, lei, ética, senso-comum, espírito de luz, Deus, não importa, é tudo a mesma coisa. É tudo falta de destino no próprio olhar, falta de coragem de caminhar com os próprios pés, falta de capacidade de ser dono de si mesmo.
Liberdade é o único caminho possível da alma inquieta, do pássaro que anseia em voar livre, do humano que percebeu que chegou a hora de não mais depender do julgamento dos outros. Pois como é óbvio para qualquer alma com um olhar mais aguçado, os julgamentos dos outros não mostram nada de ruim a respeito do que está sendo julgado, eles apenas mostram a pequenez dos olhos de quem está julgando.
Liberdade eu vos digo, esse é o caminho da alma limpa. Porém caros amigos de olhar penetrante, lembrem-se de que essa liberdade é apenas para quem já está pronta para ela. Não sejam tiranos a ponto de tentar impô-la aos que ainda não poderiam com ela. Isso seria um crime muito maior do que quando eles te impõem a prisão. Eles não tem os olhos suficientemente abertos, eles não poderiam fazer diferente. Mas você caro amigo solitário. Você é abençoado em sua grandeza. Não goze dos prazeres baixos da tirania. Existem prazeres muito mais elevados aguardando pela sua vinda. Caro amigo de coração nobre, lute pela sua liberdade. Que ela seja uma conquista. Uma conquista sua. E jamais queira que a liberdade do outro seja também uma conquista sua. Liberdade cada um tem que conquistar a sua. Cada um tem a sua hora para ela.
Caro amigo de amor inesgotável. Compreenda que muitos ainda não estão prontos para ela. Seja bondoso com eles e permitam que ainda tenham os seus reis e os seus Deuses. Pois ainda necessitam deles. Não os condenem a serem livres enquanto ainda não tem condições de lidarem com a própria liberdade. Seja você uma alma liberta, derrame você no mundo a fragrância dos novos tempos, porém deixem que eles sigam os seus próprios caminhos. Deixe que eles tenham os seus próprios tempos. Nós também já tivemos os nossos. Não cabe a nós caminhar pelos outros. Siga o seu próprio caminho meu caro amigo de vigor incansável.

Trecho do Zaratustra de Nietzsche


Do Caminho do Criador

"Queres, meu irmão, isolar−te? Queres
procurar o caminho que te guia a ti
mesmo? Espera ainda um momento e
ouve−me.

"O que procura é um erro". Assim fala o
rebanho.

E tu pertenceste ao rebanho durante
muito tempo.

Em ti também ainda há de ressoar a voz
do rebanho. E tu pertenceste ao
rebanho durante muito tempo.

Em ti também ainda há de ressoar a voz
do rebanho. E quando disseres: "Já não
tenho uma consciência comum
convosco", isso será uma queixa e uma
dor.

Essa mesma dor é filha da consciência
comum, e a última centelha dessa
consciência ainda brilha na tua aflição.

Queres, no entanto, seguir o caminho
da tua aflição, que é o caminho para ti
mesmo? Demonstra−me o teu direito e
a tua força para isso!

Acaso és uma força nova e um novo
direito?

Um primeiro movimento? Uma roda que
gira sobre si mesma? Podes obrigar as
estrelas a girarem em tomo de ti?

Ai! Existe tanta ansiedade pelas alturas!

Há tantas convulsões de ambição!
Demonstra−me que não pertences ao
número dos cobiçosos nem dos
ambiciosos!

Ai! Existem tantos pensamentos
grandes que apenas fazem o mesmo
que um fole. Incham e esvaziam.

Chamas−te livre? Quero que me digas o
teu pensamento principal, e não que te
livraste de jugo.

Serás tu alguém que tenha o direito de
se livrar de um jugo? Há quem perca o
seu último valor ao libertar−se da sua
sujeição.

Livre de quê? Que importa isso a
Zaratustra? O teu olhar, porém, deve
anunciar−se claramente:
livre, para quê? Podes proporcionar a ti
mesmo teu bem e o teu mal, e
suspender a tua vontade por cima de ti
como uma lei? Podes ser o teu próprio
juiz e vingador da tua lei?

Terrível é estar a sós com o juiz e o
vingador da própria lei, como estrela
lançada ao espaço vazio no meio do
sopro gelado da soledade. Ainda hoje te
atormenta a multidão; ainda conservas o
teu valor e as tuas esperanças todas...
Um dia, contudo, te fatigará a soledade,
se abaterá o teu orgulho e cerrarás os
dentes. Um dia clamarás: "Estou só!"

Chegará um dia em que já não vejas a
tua altura, e em que a tua baixeza esteja
demasiado perto de ti. A tua própria
sublimidade te amedrontará como um
fantasma. Um dia gritarás: "Tudo é
falso!"

Há sentimentos que querem matar o
solitário. Não o conseguem? Pois eles
que morram! Mas serás tu capaz de ser
assassino?

Meu irmão, já conheces a palavra
"desprezo"? E o tormento da justiça de
ser justo para com os que te
menosprezam?

Obrigas muitos a mudarem de opinião a
teu respeito; por isso te consideram.
Abeiraste−te deles, e contudo, passaste
adiante; é coisa que te não perdoam.
Elevaste−te acima deles; mas quanto
mais alto sobes tanto mais baixo te vêm
os olhos da inveja. E ninguém é tão
odiado como o que voa.

"Como quereríeis ser justo para comigo!
− assim é que deves falar. − Eu destino
para mim a vossa injustiça, como lote
que me está destinado".

Injustiça e baixeza é o que eles arrojam
ao solitário; mas, meu irmão, se queres
ser uma estrela, nem por isso os hás de
iluminar menos.

E livra−te dos bons e dos justos!
Agrada−lhes crucificar os que invejam a
sua própria virtude: odeiam o solitário. E
livra−te ainda assim da santa
simplicidade!

A seus olhos não é santo o que é
simples, e apraz−lhe brincar com fogo...
das fogueiras.

E livra−te também dos impulsos do teu
amor! O solitário estende depressa
demais a mão a quem encontra.

Há homens a quem não deves dar a
mão, mas tão−somente a pata, e além
disso quero que a tua pata tenha garras.
O pior inimigo, todavia, que podes
encontrar, és tu mesmo; lança−te a ti
próprio nas cavernas e nos bosques.

Solitário, tu segues o caminho que te
conduz a ti mesmo! E o teu caminho
passa por diante de ti dos e dos teus
sete demônios.

Serás herege para ti mesmo serás
feiticeiro, adivinho doido incrédulo, ímpio
e malvado.

É mister que queiras consumir−te na tua
própria chama. Como quererias
renovar−te sem primeiro te reduzires a
cinzas?

Solitário, tu segues o caminho do
criador: queres tirar um deus dos teus
sete demônios!

Solitário, tu segues o caminho do
amante: amas−te a ti mesmo, e por isso
te desprezas, como só desprezam os
amantes.

O amante quer criar porque despreza!
Que saberia do amor aquele que não
devesse menosprezar justamente o que
amava?

Vai−te para o isolamento, meu irmão,
com o teu amor e com a tua criação, e
tarde será que a justiça te siga
claudicando.

Vai−te para o isolamento com as
minhas lágrimas, meu irmão. Eu amo o
que quer criar qualquer coisa superior a
si mesmo e dessa arte sucumbe".

Assim falou Zaratustra.

domingo, 3 de julho de 2011

Pensamentos do além


Amor

E o que dizer do amor? Todos falam sobre ele, não? No fundo não é o amor a base fundamental de quase todas a ideologias? Mas porque é então que se vê tanto ódio por todas as partes? Será que falar de amor cria ódio? Ou será que se fala de amor justamente porque se tem ódio? Após fazer sexo não se pensa em sexo. Só pensa em sexo quem não o pratica constantemente. É a ausência que trás o pensamento. É a falta que trás a busca. E é por isso que se fala tanto de amor. Se busca sempre aquilo que não se tem. Falar de amor já é um sinal da falta de amor. Quem se torna amor, quem transborda amor, esse nem toca no assunto, pois quando se é não é preciso pensar que se é. Nesse caso não há pensamentos, há um ser, não há palavras, há um acontecer.

Decepção

E quem foi que te decepcionou? Faz mesmo sentido essa pergunta? Só tem desilusão quem antes se iludiu. Assim dizem os anjos já a algum tempo. Não são os outros que te decepcionam, é você que deu importância demais a eles. Inclusive quando você se decepciona é porque você se deu importância demais. Mas agora cabe também a pergunta, porque é que gostamos tanto de criar ilusões a respeito de nossa grandeza? E ainda outra ainda mais importante, será que a nossa ilusão de grandeza não nos impede de enxergar a nossa própria grandeza? Pois normalmente isso é o que eu vejo, seres grandiosos com uma imensa ilusão de que são grandes, o que os tornam pequeninos. Mas há uma razão para isso. Voltaremos agora a primeira pergunta, porque é que criamos ilusões? Para se criar um sonho na Terra não é necessário tê-lo sonhado durante o sono antes? E como trazer a potencialidade divina que temos escondida em nós se de fato primeiramente não acreditarmos nela? Existe um tipo de ilusão, um tipo de fé, que mesmo que esteja equivocada, ela serve para nos mover adiante, serve para que tragamos algo para cá que ainda não está aqui. A parte dessa ilusão que não é real trará necessariamente desilusão no futuro. Mas como disse, ela é necessária. O melhor seria se iludir de brincadeira, sonhar acordado. Que os meus sonhos me tragam o que der pra trazer, e se deles nada acontecer então que se sonhe outros sonhos e que se siga adiante. Pois o importante de verdade não é realizar os sonhos, mas sim seguir adiante. Qualquer coisa que nos leve para frente, para além do que nós somos, é boa, mesmo que com ela venha dor e sofrimento. Não importa, faz parte do crescimento. Não somos seres prontos ainda, se permita crescer. Se permita ir adiante, ir além.

Brincadeira

O que é a vida senão uma grande piada? Uma piada sim, mas uma piada que merece ser levada a sério. Pois quem não entende a piada não ri. É preciso compreender a vida se quisermos rir dela. Eu vos digo com toda seguridade, a vida foi feita para se rir dela. Essa é a única razão dela existir. Porém, como disse, temos que compreendê-la, senão perdemos a piada e ficamos com a cara séria. É exatamente isso que acontece em muitos países desenvolvidos. As pessoas estão tão preocupadas com seus empregos que acabam se esquecendo da vida. Não que o emprego não seja parte da vida. Mas ele é parte e a parte não é o todo. Sempre que a parte, qualquer parte, vira todo, então se perde a vida, e aí se acaba ficando sério. Pois quem perde a vida perde a piada.

Compaixão

E o que dizer da compaixão? Compaixão te faz retornar ao todo. Te faz ser um novamente com o próximo e logo com toda a existência. Compaixão não é ter pena, não é dizer sim a tudo que os outros fazem. Inclusive muitas vezes significa dizer não, compaixão é ser o outro. Não é entender e nem aceitar o outro, é ser o outro. E ser o outro não trás nenhuma obrigação e nenhuma ética obrigatória para com a outra pessoa. Seremos a outra pessoa e isso por si só já é a maior benção que pode acontecer aos dois. Nessa fusão toda a existência entra em comunhão com os dois. E nisso um silêncio surge, e o amor nasce justamente desse segundo de silêncio. Compaixão não é perdão. Entre o que perdoa e o perdoado existem duas pessoas, na compaixão só existe uma. Ou melhor, desaparecem as duas e o que existe é só a existência. A prática da compaixão é de todas a melhor meditação. Aos poucos ela derruba a ilusão da separação, que no fundo é a única ilusão que existe da qual surgem todas as outras. Compaixão é o começo do caminho para a serenidade, do caminho de volta para a existência.

A respeito de ajudar os outros


  • Antes de ajudar a alguém deve-se sempre se fazer 3 perguntas: -A pessoa realmente precisa da minha ajuda? - Ela quer receber a minha ajuda? - Ela está pronta para receber a minha ajuda? O não em qualquer uma dessas respostas torna a "ajuda" na verdade em apenas mais um problema. A "ajuda-a-qualquer-custo" não passa de invasão, tortura e tentativa de domínio.
  • Se você quer realmente ajudar o mundo, então inevitavelmente terá que passar pelas 3 perguntas. Caso contrário, para o bem da própria humanidade, a sua ajuda é absolutamente dispensável.
  • Normalmente se quer ajudar os outros, se quer ser útil, apenas para se sentir alguém importante. Porém, na maioria das vezes as pessoas realmente ajudariam as outras se elas finalmente aceitassem a sua insignificância. Se elas aceitassem simplesmente que ninguém precisa delas. Essa seria a maior ajuda possível.
  • Por não querer aceitar que ninguém necessita de nós, passamos a criar e a ver problemas em todos os lugares. Fazemos isso apenas por um desejo de sentirmo-nos necessários. É apenas medo da insignificância. Os "salvadores do mundo" são o caso máximo desse medo.
  • Como eu já havia dito anteriormente: Porque é que as pessoas continuam achando que o mundo precisa ser salvo? Quando é que elas se darão conta de que são elas que precisam de problemas no mundo para que assim possam se tornar "salvadores"?
  • As vezes há também de se fazer uma quarta pergunta. Tenho eu capacidade de ajudá-lo? Apenas boa intenção muitas vezes não basta. É necessário capacidade também, senão a ajuda será apenas mais um problema.
  • Esses pensamentos são verdades não apenas a nível pessoal, mas como também a qualquer outro nível, inclusive a nível de nações.