segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Torna-te quem tu és


Só aquele que encontra a si mesmo é realmente digno da vida. Vida que eu digo é a vida verdadeira, e não essa mentira que as pessoas experimentam por aí. Mas porque eu acho isso? Só aquele que vive o seu potêncial máximo é que se desgarra da culpa, do medo, da insegurança, da covardia. Viver o potêncial máximo é algo atemporal. Não é questão de uma vida inteira. Isso não interessa. O que interessa é que você encontre a si mesmo. Esse é o ponto. Para isso a vida trabalha. No momento em que se atinge essa experiência então o resto vem por si só. O que quer que seja. Pare de mentir para si mesmo! Se você não sabe nem mesmo quem você é, então como é que você quer saber qual é o seu propósito aqui?
Se você sabe quem você é então a pergunta sobre o que se deve fazer simplesmente não aparece. Você simplesmente sabe. Não é uma simples conclusão lógica, mas você sabe. O dia em que você se conhecer então todos os seus Deuses morrerão. Inclusive os Deuses disfarçados em forma de espíritos de luz e de serenões. Você não mais precisará de guias, sejam eles cegos ou lúcidos. Você simplesmente estará em pé sobre os seus próprios pés.
A questão é que só aquele que é sincero consigo mesmo, aquele que se permite qualquer coisa nos seus atos, que é verdadeiramente capaz de se avaliar e de saber realmente quem é. Aquele que se esconde atrás de uma máscara, de uma moral, de uma ética, seja ela cósmica ou terrena, de um bem e de um mal, de um certo e de um errado, esse jamais será capaz de encontrar esse estado máximo de auto-conhecimento. Aquele que se permite ser a si mesmo, esse é capaz de se encontrar. Somente quem se permite chorar, quem se permite ser cruel, somente esse pode se olhar como realmente é. Veja que estou dizendo aquele que se permite ser cruel, e não aquele que é cruel. Há uma grande diferença entre ambos, eles são inclusive opostos, pois aquele que se permite crueldades geralmente não necessita comete-las. Já aqueles que não se permitem-las, no fundo, estão sempre à postos para que alguma bandeira bonita apareça e os sirva de desculpa para cometer uma crueldade disfarçada. Basta para isso ver a história do cristianismo com sua bandeira de amor ao próximo repleta de sangue. Quem se permite verdadeiramente chorar, depois de algum tempo estará livre de choros. Já quem não se permite andará sempre por aí com sua máscara servindo de muralha escondendo o desespero do fundo de suas almas.
Pare de mentir para si mesmo. Chega de esperar pela mensagem dos anjos. Mate Deus e seus substitutos. Torne-te quem tu és!

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Pensamentos de um dia nem lá e nem cá


-As vezes precisamos ir para algum lugar simplesmente para perceber que nunca havíamos precisado ir para lá. Porém, precisamos ir até lá para percebermos isso.
-Os seus atos são apenas um reflexo daquilo que você é, e não o contrário. Então, para mudar o que se é não faz sentido se focar em seus atos. Observe eles, analise eles, porém eles não são problemas em si mesmos.
-O problema em não fazer aquilo que estou destinado a fazer não é que estarei falhando em alguma tarefa, o problema é que estarei vivendo uma vida que não é minha.
-O dia em que você perceber que simplesmente não há para onde ir, você perceberá também onde é que você deveria estar.
-Se você sabe quem você é, então você sabe o que deve fazer, pois isso é o que você é.
-Porque as pessoas continuam achando que o mundo precisa ser salvo? Quando é que elas se darão conta de que são elas que precisam de problemas no mundo para que assim possam se tornar "salvadores"?
-No momento em que você perceber que não há necessidade em se evoluir, aí então você começará realmente a evoluir.
-Só aquele que se deu conta de que não há necessidade de se amar é que consegue verdadeiramente amar.
-Não procure lógica na vida. Sua lógica estará sempre limitada àquilo que você atualmente é. Se você quiser superar a si mesmo, a lógica não é o caminho.
-Você não terá medo de obsessores se não tiver medo de si mesmo.
-Normalmente os líderes tem uma necessidade de serem seguidos maior do que a dos seguidores de serem liderados.
-Você apenas se tornará "aquele que você é" no dia em que realmente morrer "aquele que você deveria ser".

domingo, 19 de setembro de 2010

Quando um buda começa a despertar


O problema é que agente cresce sendo ensinado a buscar a felicidade. Agente cresce sendo ensinado a buscar o paraíso. Todos nos ensinam que o sofrimento é ruim. Que o sofrimento é quase que um fracasso. Dizem que nós temos que nos esforçar para sermos felizes.
Todas essas ideias foram marteladas nas nossas cabeças tantas vezes ao longo das ultimas vidas que agente acabou acreditando nelas. E esse é o problema todo.
Felicidade e sofrimento não são diferentes. Assim como esperança e decepção. Onde um existe irá existir também o outro. Ter esperança de que a vida será feliz e alegre é a pior coisa que pode acontecer a alguém. Esperança não pode trazer nada de bom. Inclusive ela impede que você esteja realmente aberto para a vida. A questão importante é experimentar a vida. Estar aberto sem julgamentos para o que ela venha a trazer.
Quando você julga o seu sofrimento você se mistura com ele, e isso só aumenta o problema. Esqueça a ideia de felicidade, esqueça a ideia do paraíso. Quando o paraíso sumir da sua cabeça então você perceberá que o inferno também haverá desaparecido. Um não vive sem o outro. Mas se a vida trouxer o inferno para você, não fuja. Viva-o e não crie julgamentos de que ele não deveria estar lá. Apenas o observe. Deixe ele lá. Se os julgamentos não aparecerem então ele não irá te incomodar. O que te incomoda não é o sofrimento, são os julgamentos. São eles que não te deixam dormir. Quando você aceita o sofrimento então ele não incomoda.
Se você apenas observar o seu sofrimento, sem nenhuma interferência, então você verá que ele não tem como resistir ao seu olhar e irá desaparecer de tanta vergonha. Nesse momento o milagre acontece. Algo totalmente novo surge no lugar dele. Não é a felicidade que surge, é outra coisa. É o nada.
E lembre-se: ter experiências ruins não é ruim. O que é ruim é não ter experiências. Se as experiências que a gente tem são ruins ou boas isso não importa, essa não é a questão. Viva a vida. Se jogue ao vento. O que quer que aconteça será bom, te ajudará a amadurecer. Não importa o que seja.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Desabafos da meia-noite


Por que essa merda da ideia de destino ainda está viva dentro de mim? Enquanto o meu destino viver eu não viverei. Simplesmente não há espaço para os dois na vida. Enquanto eu tiver um futuro eu jamais terei um presente. O futuro só me traz medo. O destino me faz viver com covardia. A própria ideia de destino é fruto da covardia. Destinado à quê? Não há o que fazer. Não há esperança. Não há salvação. Não há Deus. A única coisa que existe é a vida!

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Conversas com um espírito de luz


Ó insuportável ser, porque é que você insiste em aparecer para mim? Eu já não deixei bem claro que você não é bem vindo aqui? O quê? Você acha mesmo que um dia eu serei como você? Como? Você quer que eu te siga? Jamais maldito ser que habita os céus. Eu não iria tão baixo assim. Quer conhecer a verdade? Pois então eu te falarei.
Eu não sou mentiroso e entediante como os seus amigos santos. Inclusive eu prefiro a companhia das almas do umbral. Pelo menos eles não mentem em suas intenções. Eles não vestem uma roupa branca para esconder o negro do fundo de suas almas. Você quer que eu te siga? Pois então me escute.
A sua falta de confiança na sua própria verdade é que faz você precisar de seguidores. Convencendo a eles você se convence do que no fundo da sua alma você sabe que é mentira. Você vende um consolo fajuta simplesmente porque você tem o desejo de ser o consolador. Você não se importa com as pessoas, o que você quer é esse título, o consolador. Você engana a todos, você mente descaradamente, você os ajuda a permanecerem na cegueira. Você acha mesmo que os outros precisam de sua ajuda? Você é que precisa dos outros na miséria para poder se sentir necessário. No fundo tudo se resume a isso, você odeia a sua vida, você odeia o que você é, você odeia o tamanho da sua insignificância. Por isso você finge isso tudo que você faz. Você quer ter um significado para alguém, pois talvez assim você se esqueça do ninguém que você é.
Maldito diabo celeste! Porque você não vai embora? Você não vê que eu estou na borda de me tornar um buda? O que é isso? É inveja? Por ver que alguém que não faz da vida um sacrifício e uma tortura de si mesmo possa encontrar aquilo que vocês sempre pregaram mas nunca encontraram? Sim, estou falando do amor. O quê? Vejo medo agora em seus olhos. O que os seus cegos seguidores achariam disso? Uma pobre alma indefesa diante de um louco.
Sim, eu falo do amor. Mas falo não como outros profetas que eram tão cegos como você. Eles falavam de algo que nunca haviam experimentado. Eu falo do amor pois ele já brotou em mim. As vezes ele aparece. As vezes ele vem como uma suave brisa. Não, ele não é o contrário do ódio. É por isso que vocês malditos espíritos de luz jamais entenderão. Esse amor que vocês pregam é apenas o medo que vocês tem em serem odiados. O meu amor não é isso. Ele não é para ninguém, nem mesmo é meu. Não sou eu que possuo ele, é ele que me possui. Não é algo que se tem, é algo que se é.
Não, não adianta, você não entenderá. Isso é tão longe do que você jamais experimentou que você não tem a menor condição de entender o que falo. Mas não se preocupe. A minha mensagem não é para você. Ela não é para pessoas como você. No fundo ela não é para ninguém. Ela é simplesmente um grito de liberdade jogado ao ar para quem o quiser.
É um grito para me livrar de todo aquele lixo que eu acumulei em mim na época em que eu dava ouvidos a idiotas como você.
Mas agora chega! Saia daqui e não volte mais! Eu já cansei dessa baixaria que você carrega por onde quer que você passa. Não me venha mais com o seu deus. Eu já cansei de ser um seguidor, cansei de ter sido criado. Agora é hora de me tornar um criador. De criar a minha própria vida. Agora saia daqui.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

O encontro


Senhores, hoje eu tenho algo muito especial para contá-los. Hoje eu tive um encontro com Deus.
Sim, vocês podem não estar acreditando, mas hoje finalmente ele resolveu aparecer para mim. Eu estava sozinho no meu quarto lendo A Gaia Ciência do meu amigo Nietzsche, quando de repente uma energia sem forma apareceu do nada na minha frente, e eis que ela me disse: "Olá, eu sou Deus."
E a conversa seguiu da seguinte maneira...

Eu - Eu não acredito. Eu te matei a alguns anos atrás, como é que você pode ainda estar vivo?
Deus - Existem muitas coisas que você ainda não entende. Eu não posso morrer. Se eu pudesse morrer pode estar certo que eu mesmo já teria me matado a muito tempo. Ou você acha que é agradável passar toda a eternidade aguentando a todos os tipos de seres humanos jogando a responsabilidade por tudo que ocorre em suas vidas em cima de mim?
Eu - Uai! Mas no fim das contas a culpa é toda sua. Afinal, foi você quem os criou desse jeito.
Deus- Tá bom eu já sei. Não precisa jogar isso na minha cara. Na verdade é exatamente por isso que eu estou aqui. Para que você mande uma mensagem a eles em meu nome. Para ajudá-los.
Eu - Não vem com essa não. Todo mundo que até hoje falou em seu nome só falou bobagem. Se você quiser mandar uma mensagem para os humanos procure algum cristão, ou melhor, vai num centro espírita que lá eles vão adorar encorporar Deus.
Deus - Desculpa, mas vai ter que ser você. Não tem outro jeito.
Eu - Como assim?
Deus - Acontece que os mensageiros que eu enviei não deram muito certo. Não posso culpá-los, pois a maioria falou exatamente o que eu disse para eles falarem. Acontece que a coisa deu errada, e por isso eu mudei de opinião.
Eu - Mas pode um Deus mudar de opinião?
Deus - Claro! Eu posso tudo. Você por um acaso se esqueceu que eu sou Deus?
Eu - Tudo bem! Mas o que que passa na sua cabeça agora?
Deus - Eu preciso libertar a humanidade.
Eu - Libertar a humanidade de que?
Deus - De mim.
Eu - Nisso eu concordo.
Deus - Não precisa vir com gracinhas para cima de mim.
Eu - Desculpa! É que eu nunca havia conversado com um Deus antes. Essa experiência é nova para mim.
Deus - Isso é irrelevante. Apenas se concentre no que você terá que dizer.
Eu - Espera um pouco. Mas você ainda não me explicou porque tem que ser eu?
Deus - Pois obviamente eu não posso enviar essa mensagem por alguém que acredita em mim. Um cristão certamente pensaria que eu sou o Diabo, e não Deus. Eu não consigo mais conversar direito com nenhum cristão hoje em dia.
Eu - Sim, mas existem muitos outros ateus espalhados por aí.
Deus - Os ateus são piores ainda. Quem você acha que é mais crente? um ateu na minha não existência ou um cristão na minha existência? Eu vou te explicar melhor tudo. Parece que você é meio lerdo para entender as coisas.
(Deus fez uma pausa, pensou um pouco, respirou fundo e depois continuou)
Deus - O crente acredita em mim basicamente por um motivo. Ele tem medo da vida. Ele tem tanto medo da vida, tanto medo de ser o responsável por suas decisões, que joga tudo pra cima de mim. Como gostam de falar "Que seja o que Deus quiser". Porque tem que ser de acordo com o que eu quiser? Será que eles não percebem que eu os criei para serem donos de si mesmos, para serem livres, e não para serem escravos da minha vontade? Não tem jeito, se acontece algo de bom em suas vidas logo vem dando graças a Deus, como se fosse eu que tivesse proporcionado aquilo a eles. Quando acontece uma desgraça logo pensam "Deus sabe o que faz", "Ele escreve certo por linhas tortas". Não tem jeito, na vida deles absolutamente tudo que acontece eles acham que é por minha causa. Assim não dá mais. Eles tem que parar de levar a vida que eu quero e começar a levar a vida que eles querem.
Eu - Sim. Mas e os ateus?
Deus - Ah sim. Já ia me esquecendo. O que acontece é que os ateus também são movidos pelo medo da vida. Tá certo que de uma forma um pouco diferente, mas no fundo é o mesmo medo. Eles tem medo de viver em um mundo onde exista um Deus. Eles me negam por medo de acreditar que eu existo, por medo de serem punidos, por medo do inferno.
Eu - Mas eu confesso que esse medo me parece muito mais razoável.
Deus - Não interessa! No fundo é tudo crença. É tudo fé. O ateu tem fé de que eu não existo. Por isso é que eu não posso passar a minha mensagem por nenhum deles. Simplesmente eles não acreditariam que eu sou realmente Deus. Eles não aceitariam que eu existo nem se me vissem.
Eu - Mas e porque eu?
Deus - Mas você é devagar mesmo, hein?
Eu - Vem cá! Você quer que eu leve a sua mensagem ou não? Então é melhor você também parar com gracinhas.
Deus - Enfim, tem que ser você por um simples motivo. Quando a minha existência começou a te incomodar imensamente, ao invés de simplesmente não mais acreditar em mim, você decidiu me matar.
Eu - Mas antes de mim já houveram outros assim, não?
Deus - Sim, já houveram. E eu tentei passar a mensagem por muitos deles. Em alguns casos eu até tive um pouco de sucesso. Minha ultima tentativa foi em um tal de Friedrich que escreveu uns livros de filosofia por aí. Aquele lá sim, entendeu muita coisa do que eu disse. Na verdade acho até mesmo que ele conhecia o ser humano melhor do que eu. O problema foi que ninguém percebeu que tinha o meu dedo naquilo que ele disse. Por isso ninguém percebeu que até mesmo eu concordava com o que ele dizia. Para dizer a verdade eu aprendi muita coisa com ele.
Eu - Mas pode um Deus aprender algo com os humanos?
Deus - Como eu já te disse, eu sou Deus, eu posso tudo. Não me venha dizer o que eu posso ou não posso fazer.
Eu - Mas então...
Deus - O fato é que eu já não aguento mais os seres humanos. Eu já cansei de ser pai. Eu quero que eles cresçam e parem de uma vez por todas de precisar de mim. Eu quero finalmente me aposentar. Quero enfim descançar. E você precisa me ajudar.
Eu - E o que eu ganho com isso?
Deus - Como assim o que você ganha com isso? Virou mais um capitalista agora?
Eu - Hahaha! Você tá certo. Foi mal aí!
Deus - Mas então. Eu não vou te dar nada em troca. Eu não sou um comerciante. Vim até você pois sei que você terá um enorme prazer em livrar as pessoas da minha presença.
Eu - Realmente você tem razão. Já passou da hora de você sumir de vez da vida dos seres humanos. E isso realmente me dará um enorme prazer.
Deus - Por isso que eu vim a você. Ambos sairemos mais tranquilos dessa jornada. Eu terei mais paz de espírito e você terá a sua vingança contra todo o sofrimento acumulado pela vida não vivida que você levava em nome da "minha vontade", em nome da maldita "vontade de Deus".
Eu - Muito justo.
Deus - E que finalmente seja feita a vossa vontade, e não mais a minha!
Eu - Que assim seja!
Deus -Amém!

Depois disso Deus desapareceu. E confesso que pela primeira vez em muito tempo eu até tive simpatia por ele. Percebi que não apenas a humanidade precisa se livrar dele, mas também ele precisa se livrar da humanidade. Realmente não deve ser fácil ser Deus.
Enfim, aqui fica o registro de uma das conversas mais interessantes que eu já tive em minha vida. Hoje eu me encontrei com Deus.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Alguns aforismos


1 - Não há muita diferença entre impor a alguém a moral do amor ou impor a alguém a moral do ódio, ambos são atos de tirania e opressão. O problema não reside no que está sendo imposto, mas sim no ato de se estar impondo algo.

2 - Não reconhecer a própria grandeza não é um ato de humildade, mas sim de covardia.

3 - Querer que os outros sejam humildes não é um ato de sensatez e nem de bondade, mas sim de covardia, é fruto do nosso medo de perceber que o outro de fato possa ser maior do que nós somos.

4 - Não há nada mais orgulhoso do que querer ser humilde. Só deseja para si a humildade quem deseja fazer disso mais um motivo para sentir-se orgulhoso.

5 - Será possível que alguém tenha fé em algo que não queira que seja verdade? Daí podemos ver de onde que nasce essa suposta virtude, que não passa de medo em encarar de frente a realidade da existência humana.

6 - Do ponto de vista da pessoa que tem fé, a sua fé será sempre raciocinada.

7 - A infelicidade que alguém experimenta não é proporcional ao tamanho da desgraça que acontece na sua vida, mas sim proporcional à diferença entre o que acontece e o que a pessoa idealizou que aconteceria.

8 - Só deseja a aprovação dos outros quem não aprova a si mesmo.

9 - Só tenta convencer os outros sobre alguma verdade quem tem dúvidas sobre a própria verdade. Convencer os outros é um remédio para tentar convencer a si mesmo. É por isso que as religiões estão sempre em busca de novos adeptos. O medo de que a sua crença não seja verdade é absurdamente grande.

10 - Enquanto você tiver um deus, você jamais se tornará um.

11 - Só prega o amor ao próximo quem tem medo de ser odiado.

12 - Quando elogiamos os outros, ou alguma coisa que não fomos nós os autores, no fundo o que estamos fazendo é elogiar a relação que temos com essa coisa, ou com essa pessoa. Os pais elogiam os filhos para crerem que foram bons pais. Elogiamos livros que lemos para dizermos que somos leitores de bons livros. Elogiamos nossos parceiros para acreditarmos que não fomos medíocres o bastante para perdermos grande parte de nossa liberdade em nome de um tolo qualquer. No fundo, todos os elogios que fazemos são sempre direcionados apenas a nós mesmos.

13 - Evolução não existe. As pessoas somente encontrarão o que sempre buscaram apenas no dia em que perceberem que elas não precisam melhorar. Quando largarem a ideia de que falta algo, de que são incompletas, de que são feias, aí sim perceberão que tudo sempre esteve aqui. A evolução nunca foi necessária. Muito pelo contrário, ela sempre foi uma barreira.

14 - Só deseja ir para o céu depois da morte aqueles que tem um enorme desprazer em viver. Quem desfruta a existência com dança, liberdade e alegria já encontrou o céu durante a vida. Esse não tem necessidade nenhuma de ir pra lugar algum depois da morte.

15 - O cristão é movido basicamente pelo medo do inferno. Tudo que ele faz, o faz pensando na salvação, no caminho para o céu, fugindo do inferno. Como pode a vida de uma pessoa dessas ser uma celebração de alegria e êxtase, sendo que o combustível que a move durante todo o tempo é apenas o medo? Uma vida baseada no medo jamais será uma dança, jamais será um canto, jamais será uma poesia.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Trecho de "Dialética Erística" de Arthur Schopenhauer


De fato, não existe nenhuma opinião, por absurda que seja, que os homens não se lancem a torná-la sua, tão logo se tenha chegado a convencê-los de que é universalmente aceita. O exemplo vale tanto para suas opiniões quanto para sua conduta. São ovelhas que vão atrás do carneiro-guia aonde quer que as leve. Para eles é mas fácil morrer do que pensar. (...)
O que se chama opinião geral reduz-se, para sermos preciso, à opinião de duas ou três pessoas; e ficaríamos convencidos disto se pudéssemos ver a maneira como nasce tal opinião universalmente válida. Então descobriríamos que, num primeiro momento, foram dois ou três que pela primeira vez as assumiram e apresentaram ou afirmaram e que os outros foram tão benevolentes com eles que acreditaram que as haviam examinado a fundo; prejulgando a competência destes, outros aceitaram igualmente essa opinião e nestes acreditaram por sua vez muitos outros a quem a preguiça mental impelia a crer de um golpe antes que tivessem o trabalho de examinar as coisas com rigor. Assim crescem dia após dia o número de tais seguidores preguiçosos e crédulos.
De fato, uma vez que a opinião tinha um bom número de vozes que a aceitavam, os que vieram depois supuseram que só podia ter tantos seguidores pelo peso concludente de seus argumentos. Os demais, para não passar por espíritos inquietos que se rebelam contra opiniões universalmente admitidas e por sabichões que quisessem ser mais espertos que o mundo inteiro, foram obrigados a admitir o que todo mundo já aceitava. Neste ponto, a concordância torna-se uma obrigação. E, de agora em diante, os poucos que forem capazes de julgar por si mesmos se calarão, e só poderão falar aqueles que, totalmente incapazes de ter uma opinião e juízo próprios, sejam o eco das opiniões alheias. E estes, ademais, são os mais apaixonados e intransigentes defensores dessas opiniões. Pois estes, na verdade, odeiam aquele que pensa de modo diferente, não tanto por terem opinião diversa daquela que ele afirma, quanto pela sua audácia de querer julgar por si mesmo, coisa que eles nunca poderão fazer, sendo por dentro conscientes disto.
Em suma, são muito poucos os que podem pensar, mas todos querem ter opiniões. E que outra coisa lhes resta senão tomá-las de outros em lugar de formá-las por conta própria? E, dado que isto é o que sucede, que pode valer a voz de centenas de milhões de pessoas?

segunda-feira, 5 de abril de 2010

O homem


É chegado o tempo de novos homens. A humanidade já não aguenta mais carregar o fardo do passado. A moral serviu para esmagar o homem, para fazê-lo sentir-se feio. Depois da invenção da moral os humanos passaram a se esconder, acumularam culpa atrás de culpa e nunca mais conseguiram ver o quão bonito sempre foram. Passaram a não ser livres, e por causa do sentimento de culpa e da não aceitação de si mesmos começaram a julgar os outros. Nesse ponto sua liberdade diminuiu ainda mais, pois quando julgamos estamos nos proibindo moralmente de cometer tais atos. Toda essa loucura criou um peso insuportável na alma das pessoas. As depressões e os suicídios mostram isso. Esse peso transformou a vida em um fardo. A vida que deveria ser uma celebração de si mesma, da beleza humana, da liberdade dos desejos, passou a ser um fardo. A existência, tão bela e amável, ao ganhar o nome de Deus passou a ser tirana e opressora. As pessoas não amam à Deus, elas o temem. Elas temem descobrir que no fundo sempre foram livres, que sempre foram belas, que não existe caminho a ser seguido, pois a vida e tudo que precisamos já estão aqui e agora. Não há a necessidade de se buscar nada no futuro. Quem coloca a felicidade no futuro jamais a terá no presente.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Trechos de A Gaia Ciência de Friedrich Nietzsche


Contra os caluniadores da natureza - Que seres desagradáveis estas pessoas em que toda tendência natural se torna rapidamente doença, algo deformante ou mesmo ignomínia! São elas que nos fazem acreditar que as inclinações naturais, os instintos do homem são maus; são elas a causa da nossa injustiça para com a nossa natureza, para com toda a natureza! Não faltam pessoas que teriam o direito de se abandonar às suas inclinações com graça, com despreocupação: mas não o fazem, com receio desta "má essência" imaginária da natureza! É em função disso que se encontra tão pouca nobreza em meio aos homens, pois a nobreza de uma alma se reconhecerá sempre no fato de não ter medo de si próprio, não esperar nada de vergonhoso e voar sem escrúpulos por toda a parte, tal pássaro nascido livre como é, onde o seu desejo o impele! Aonde quer que vá, será sempre rodeado pelo sol e pela liberdade.

Domínio sobre si - Esses professores da moral que recomendam ao homem acima de tudo que se autodomine, dão-lhe dessa forma, uma singular doença, ou seja, uma constante irritabilidade e uma comichão a todas às emoções e inclinações mais naturais. Seja o que for que lhe aconteça daqui para frente, seja de fora, seja de dentro, seja o que for que ele aí encontre ou que o atraia, ou que o incite, ou que empurre, parece sempre a este ser irritadiço que o seu domínio sobre si corre os maiores perigos: já não tem o direito de se fiar em nenhum instinto, de se abandonar a nenhum impulso livre, mantém-se na defensiva, sem repouso, eriçado de armas contra ele próprio, o olhar atento e desconfiado, mantendo eternamente diante da própria torre uma guarda que se impôs a ele mesmo. Por certo, ele pode ser grande nesse papel! Mas como se tornou insuportável aos outros, pesado para si mesmo, pobre, enfim, hermeticamente fechado aos mais belos acasos da alma! Como também, a qualquer outra lição futura! É preciso, pois, de vez em quando, saber perder-se, se quisermos aprender alguma coisa daquilo que nós próprios não somos.

Trecho de 'Richard Wagner em Bayreuth' de Friedrich Nietzsche


A paixão é melhor do que o estoicismo e a hipocrisia; ser sincero, mesmo no mal vale mais do que perder-se a si próprio na moralidade da tradição, o homem livre pode escolher ser bom ou mau, mas o homem não-livre é uma vergonha da natureza e não tem direito a nenhuma consolação celeste ou terrestre; enfim, todo aquele que deseja tornar-se livre só poderá fazê-lo pelos seus próprios meios, a liberdade nunca cai do céu a ninguém por milagre.

segunda-feira, 22 de março de 2010

O não-caminho


Não há o que fazer. Não há para onde ir. A existência já nos dá tudo aqui e agora. A própria busca por algo é fruto do nosso desconhecimento sobre a vida. O ser humano nasce iluminado, ele é iluminado. Ele não tem que buscar isso, ele tem apenas que perceber que não há o que buscar, pois ele já é. Quando se percebe essa verdade, então a partir do não-agir, sem absolutamente nenhum esforço, sem nenhuma vontade, o milagre acontece. Nesse ponto a pessoa pela primeira vez nasce de verdade. Nesse momento, no absoluto silêncio, a vida e o homem passam a ser um só. Não há mais barreiras, não há mais limites. Quando a busca some, quando a expectativa some, então tudo vira um. A pessoa deixa de ser e apenas a pura existência passa a ser. Não há mais o que fazer. Nunca houve o que fazer. O fazer e o querer fazer sempre foram obstáculos. A vida está aqui e agora. Esse exato instante, quando experimentado em profundo silêncio, contém todos os segredos de todo o universo. Tudo é um. Não há mais fronteiras. Há apenas uma doce celebração da vida.