domingo, 19 de junho de 2011

Aforismos de um fim de semana em Weimar


  1. Para termos força para seguirmos adiante ao invés de cair em um niilismo enlouquecedor as vezes é mais importante termos inimigos do que amigos. Além disso, é por termos inimigos que precisamos também de amigos. Para combatê-los. Como ter "camaradas" senão por causa de um inimigo em comum? Em resumo, temos inúmeros motivos para sermos gratos aos nossos inimigos. Eles nos dão estímulo, entusiasmo e amigos. Jesus talvez tenha de alguma forma percebido isso, e foi por isso que disse: "Amai aos vossos inimigos". Pois no fundo eles não te fazem tanto mal assim.
  2. A arte serve para nos mostrar o além. Para nos levar a um lugar que está além da realidade comum. Porém, quando se está no limiar de entrar nesse novo estado, o apego a arte pode se transformar em um empecilho. É como encontrar a ponte a uma nova terra e ficar preso admirando apenas a ponte. Por mais que a ponte seja bela e necessária, o apego a ela fora da hora impedirá a pessoa de ver a beleza infinitamente maior que a espera na nova terra. É muito comum no comportamento humano se apegar ao que deveria ser temporário. É muito comum fazer do meio um fim em si mesmo.
  3. Tentamos nos tornar grandes e importantes inclusive através do sentimento de culpa. Muitas vezes nos culpamos imensamente por coisas simplesmente porque queremos ser importantes, pois queremos de alguma forma achar que tivemos alguma influência em tal acontecimento. Para isso usamos a culpa, pois do contrário, sem o sentimento de culpa nos tornamos insignificantes em relação ao que aconteceu. E o ser humano não teme a nada mais do que teme a sua própria insignificância. É melhor se sentir culpado do que insignificante.
  4. Tentar se fazer responsável por algo de bom que aconteceu, ou então culpado por algo ruim que ocorreu é absolutamente o mesmo ato. Vem da mesma energia, do mesmo desejo em evitar a própria insignificância.
  5. Não seriam também os sentimentos frutos de uma fisiologia da alma, assim como as sensações são frutos da fisiologia do corpo?
  6. Você deseja seguir um caminho espiritual? Então comece pelo corpo, pois ele é a base fundamental de toda espiritualidade.
  7. Você quer buscar a divindade perdida que está dentro de você? Então comece buscando a sua humanidade, pois é exatamente a sua humanidade que o torna divino.
  8. Tenho visto ateístas que são infinitamente mais espiritualizados do que os seguidores dos caminhos que levam ao espírito. E há uma razão muito simples para isso. Normalmente não se dá muita atenção para aquilo que já conquistamos anteriormente, para aquilo que já superamos anteriormente, apenas o usamos naturalmente em nossos atos, sem sequer que tenhamos que pensar sobre o assunto. Já é parte de nosso ser, o que é exatamente o caso de muitos ateístas em relação a sua espiritualidade. Além disso, normalmente se busca apenas aquilo que ainda não se tem, e exatamente essa é a situação de muitos dos buscadores do espírito, buscam aquilo que não tem. E quando criticam ateístas muitas vezes criticam quem estão muito a sua frente, com os quais poderiam ainda muito aprender.

sábado, 18 de junho de 2011

O recado dos Deuses


E foi então que ainda pensando sobre guerra e paz me veio um minuto de clarividência. Estava deitado na grama meditando em baixo de uma árvore e eis que o vento me trouxe a boa nova. Era um pouco da sabedoria celeste que os Deuses as vezes gostam de derramar sobre a Terra. E a mensagem era a seguinte: "Enquanto ainda houver guerra em seu coração, em sua alma, então lute. Lute, só que dessa vez lute pelos outros, e não mais contra os outros."
E assim o vento foi embora, deixando para trás apenas um silencioso rastro de paz e harmonia. O problema estava resolvido. A alma guerreira que anseia pela batalha, tem agora o caminho para fazê-lo criando harmonia e não mais destruindo e tornando feio o que vê pela frente. Que agora a guerra seja a boa guerra.

A mudança


O incrível é perceber que buda sempre esteve certo. Sobre tudo que ele disse ele estava certo. Tudo. Eu tentei ir contra ele de todas as maneiras possíveis. Tentei acreditar que ter amigos era importante, até que finalmente os meus amigos começaram a precisar de mim e a me aprisionarem em seus mundos de todas as maneiras possíveis. Era impossível seguir a minha vida enquanto estivesse preso a eles. E o mesmo serve para a família. E foi então que percebi também que os meus inimigos, aqueles que eu culpava por tornarem minha vida miserável de todas as formas possíveis e dos quais não conseguia me livrar de jeito nenhum por causa de um carma ou de alguma outra coisa dessa ordem, vi que eles foram os que mais me ajudaram a crescer e a me tornar maduro. Foram eles que me mostraram o que eu odiava em mim, o que eu precisava superar em mim, o que eu precisava ainda amar em mim. Esses malditos foram sempre um incetivo, mesmo que doloroso, para que eu pudesse seguir em frente. E a vida não é nada senão um eterno seguir em frente. As ideias de "objetivo da vida" não são nada além de desculpas para nos fazer caminhar. Para nos fazer mover juntamente com a vida. Pois a vida não é nada além de mudança e movimento. Vi então que meus amigos me faziam ficar parado e que meus inimigos me faziam mover, crescer, e porque não florescer? O que eu queria agora então, paz ou guerra? Já não sabia. Os pacifistas têm que seriamente se perguntar, está a humanidade realmente pronta para suportar a paz? Para não cair no niilismo enlouquecedor da falta de algo que os mova adiante? Essa é a pergunta que você tem que se fazer, você quer a paz mas você está mesmo pronto para suportá-la?
Foi quando minha mente simplesmente começou a não poder me dar mais resposta nenhuma. Não me sentia bem na guerra, estava cansado. E não me sentia bem na paz, estava parado e entediado. Tentava pensar para encontrar uma maldita solução, pois parecia que nada dava jeito. E sobre outras coisas estava no mesmo dilema. Ser livre para me relacionar com quem eu quiser a hora que eu quiser ou me arriscar novamente em uma monogamia? A mente só me deixava maluco, pois quando eu pensava nisso nenhuma das opções parecia me satisfazer. Largar tudo e virar um maldito hippie, ou seguir a vida universitária para conseguir um bom emprego? Eu pensava e pensava e nada funcionava. Não queria nenhum deles. Viver ou morrer? Que diferença isso fazia?
Pensar, pensar, pensar, não adiantava. Só piorava. Mas foi então que o milagre veio. Foi então que não houve outra opção a não ser parar de perguntar coisas para mente. Foi a única maneira que encontrei de sobreviver. A mente não conseguia mais me dar resposta nenhuma que me servisse para nada. E então veio a meditação. E com ela o milagre. Buda estava certo. Não adianta responder as perguntas, pois o problema não está na resposta, mas sim na existência da pergunta. É a existência dela que não te deixa em paz. E então elas começaram a se silenciar pouco a pouco. E continuam indo em embora. E com elas muito lixo vai embora. Tudo que me impedia de viver a vida plenamente tem ido embora. Amigos, inimigos, família, emprego, estudos, sonhos, passado, futuro, tudo tem desaparecido. E com isso uma qualidade nova tem surgido. Um silêncio sereno. Uma paz que é infinitamente mais forte e mais bela do que qualquer uma de minhas loucuras. Agora ambas as respostas me satisfazem, qualquer resposta me satisfaz. Posso viver qualquer uma delas, essa já não é mais a questão, isso já não mais interessa. É a vida que vem surgindo. Sou eu que estou surgindo. Não mais alguém com resposta nenhuma a respeito de nada. Alguém limpo. Uma criança novamente. Buda esteve sempre certo.