quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Um canto a esperança

E tive que tirar uma folga dos meus escritos. Tive que parar de escrever por um tempo. Havia chegado o tempo de me livrar de algo que insistia em aparecer em tudo que eu escrevia. Em tudo que eu fazia também. Estava perdendo um pouco o jeito moleque de ser. Por estar virando adulto alguma força em mim começou a empurrar a criança lá pro fundo. E quando a criança se escondeu a esperança morreu. E com isso a dor começou a falar muito alto. Eu escrevia com dor. Queria me livrar dela e escrevia. Atacava os outros porque estava com medo. Eram muitas feridas, e tinha tanto medo de expô-las a mim mesmo que precisava atacar os outros. Pois não havia esperança. E dor sem esperança é insuportável. Mas foi então que tirei folga. Larguei o mundo, larguei os outros, parei tudo. Foi como ir para o Himalaia longe de tudo para meditar. Só que dessa vez o Himalaia era dentro de mim. E fui. Viajei. Lutei. Cai. Descansei. Me silenciei. Foi impressionante ver a quantidade de vozes que haviam dentro de mim se debatendo como loucas sem ter a menor ideia de que eram apenas "vozes dentro de mim". Cada uma se acreditava um universo inteiro em si mesma. Mas eram apenas "vozes dentro de mim" e nada além disso. Não que hoje eu esteja limpo de vozes. Ainda estou dentro do meu Himalia. Porém eu vejo com mais clareza. Vejo as vozes, vejo os medos, vejo o pavor, mas vejo que eles se ligam a mim mas não são eu. Se ligam pois ainda encontram eco em alguma das idéias que eu tenho. Mas inclusive as idéias, já comecei a ver que também não são minhas. Estão lá pois por algum motivo achei conveniente lá coloca-las. Mas nem elas fazem parte de mim. Mas o bonito mesmo dessa história toda é que cada dia que passa, cada meditação que acontece, cada pensamento que percebe que já é hora de ir embora, cada crença que entende que eu já não mais sou a sua casa, eu percebo mais claramente uma essência serena, amável e silenciosa surgindo do nada. Ela se confunde ainda no mar de vozes e personagens que ainda não se foram, mas eu a escuto as vezes. Eu sinto o seu gosto. A sua paz. É lá que eu quero chegar. Gostei do que vi e pra ser sincero não quero mais a vida sem isso. Algumas das vozes ainda me perseguem dizendo, você escolheu mal o caminho, você se dará mal, você será um fracassado na vida, e se continuar nesse caminho você morrerá infeliz e acabado. Mas quer saber? Prefiro morrer e fracassar buscando aquilo que meu coração me diz do que viver um sucesso baseado no medo e no abandono de mim mesmo. E foi então que me dei conta de uma coisa. A esperança estava de volta. E com isso percebi que agora as feridas já não machucam tanto. As dores já não doem tanto. A criança está mais uma vez renascendo.