quarta-feira, 20 de abril de 2011

Quando o louco começa a falar ...


Era mais um dia comum em que eu caminhava aleatoriamente pelas ruas de um subúrbio de Londres. As mesmas caminhadas na tentativa de esvaziar a mente. De apagar o barulho que insistia em não fazer paz com o meu silêncio. Já não queria mais receber mensagens me esclarecendo o significado da vida, queria apenas que as perguntas não estivessem mais lá. Não estava mais em busca da verdade. Ela nunca me adiantou de nada. Nenhuma verdade jamais trouxe nenhum tipo de paz ao meu coração. Queria ser agora o mais burro. O que menos entende a vida. Talvez assim eu comece finalmente a vivê-la. Queria deixar ao futuro apenas a inocência do vir-a-ser. Que ele me traga o que ele quiser. Essa escolha não é minha. E que escolha algum dia já foi minha? As minhas explicações para os meus próprios atos se mostraram sempre falsas. Fui eu ou foi a vida que me trouxe até aqui? E porque eu insisto em separar "eu" e "vida"? Quem criou essa ridícula separação? Nenhuma dessas perguntas faz nenhum sentido. O quê? Finalmente o sentido está desaparecendo? E por que buscar sentido algum? Razão para que? Não quero ter mais nenhum pingo de razão em nenhum dos meus atos. "Causa e efeito", que mentira mais absurda. Quem é causa e quem é efeito? Será que não é a causa que só existe por causa do efeito? E quem foi louco o suficiente para separar esses dois atos iguais? Quem foi o louco que inventou a separação? Quem separou o assassino do assassinado? Quem separou o amante do amado? Como separar o que é igual? Como separar o que pertence ao todo? O todo não vê nenhuma parte. Não há partes no todo. Não há separações. Não há eu e a vida, o que há é um eu-vida. Não há choro e risos. Quem não chora também não consegue rir. Pois é tudo a mesma coisa. Eu e você. Porque dois nomes? O indivíduo e a sociedade. Não, seus loucos! Não há partes. Não somos partes! Não temos partes. Como pode alguém dizer: "Eu não gosto dessa parte em mim."? Você não tem partes. Você é um todo. E continuam dizendo: "Tenho que melhorar esse meu lado". Não, não há lados. Você é um todo. O líder só existe porque existem seguidores, assim como os seguidores só existem porque existe um líder. Não veem vocês que não existe efeito sem causa assim como não há causa sem efeito? Quem veio antes? Não há antes. Eles vieram juntos. Eles estão juntos. Um cria o outro. A separação cria os dois ao mesmo tempo. Deus ou a humanidade? Que pergunta mais besta. Um não pode existir sem o outro. A humanidade é também causa de Deus. Foi a separação que criou um Deus. O Deus é a nossa vontade de voltar ao todo. No todo não há partes. Não há eu, não há vida, não há Deus, não há nada. E assim há tudo. Tudo! Eu, você, o louco, o buda, o guerrilheiro, o racista, o cientista, o mentiroso, o materialista, o espiritualista, o poeta, o animal, o vegetal, o sábio, o poderoso, o zé-ninguém, o doente, o criminoso, o santo, Jesus, o diabo. Nós somos o todo. Nenhum desses é parte. Somos o todo.

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