quarta-feira, 13 de abril de 2011

E finalmente ... amor


-Então me diga nobre cavalheiro. Do que falaremos hoje?
-Você ainda não percebeu? Não está sentindo esse aroma que está aqui no ar agora?
-Eu percebi que havia algo diferente. Mas tive medo de acreditar que havia chegado a hora.
-Porém a hora chegou meu caro amigo. Hoje finalmente falaremos sobre o amor.
-Mas porque exatamente sobre o amor?
-Porque eu já cansei de falar sobre todo o resto.
-Não é possível. Logo você que gosta tanto de seus discursos sobre os humanos, revoluções, o universo, sobre a vida.
-Desculpe se o meu atual estado te perturba meu caro amigo. Acontece que chegou a hora. Será que você não consegue entender isso? Tudo que veio antes foi uma preparação. Foi um treino.
-Como assim?
-Revoluções? Revolucionar o quê? Como pode alguém depois de uma bela noite de amor pensar em querer mudar alguma coisa? E que tipo de revolução poderia ser mais bela do que uma linda noite de amor?
-Há algo muito diferente em você hoje.
-Sim, eu já te disse que chegou a hora. Hoje eu falarei sobre o amor.
-Eu já tive medo de suas palavras antes, mas nunca como hoje.
-Não há problema meu caro amigo. As pessoas temem o amor. Eu sempre temi o amor. Por isso que eu precisava sempre estar falando sobre guerras e sobre outras insanidades. Eu poderia falar sobre essas coisas durante a vida inteira. Durante muitas vidas inclusive se esse fosse o caso. Mas o que eu posso fazer hoje? Finalmente chegou a hora.
-E como você sabe que chegou a hora?
-Será que você não consegue ver?
-Ver o que?
-Que ela esteve aqui.
-Ela quem?
-Ela!
-Mas não poderia ter sido outra?
-Caro amigo, a vida não conhece "poderias". A vida simplesmente é o que ela é. E foi ela quem esteve aqui, e não outra.
-Mas o que você viu nela?
-Você ainda não entendeu. O que eu vi não foi nela, foi ela.
-Mas o que ela fez?
-Não foi o que ela fez, foi o que ela é.
-Então me diga, quem ela é?
-E como poderia eu responder a uma pergunta dessas? Como colocar em palavras o que nem mesmo os sentimentos mais transcendentes de meu coração conseguem entender direito?
-Mas porquê você a ama?
-Meu querido amigo, o amor não vem do conhecimento, não vem da compreensão. A mente nunca será capaz de amar. O amor vem de outro lugar. Ele vem do desconhecido. Ele vem da aventura do viver sem saber. Eu não faço ideia do porque a amo. Apenas sei que a amo.
-Você está louco! Por acaso você já parou para pensar no que você está falando?
-E como pensar sobre o que eu estou falando? O amor vem da vida. Ele vem do todo. Ele é muito maior do que o que eu posso compreender. Eu sou apenas uma parte. E como pode a parte querer entender o todo? O todo é muito maior. O todo é o todo.
-Não entendo nada do que você está falando.
-Não há problema algum. Eu tampouco o entendo.
-Mas então porque você fala?
-Por acaso já não te falei que hoje finalmente chegou a hora? A hora de falar sobre o amor? E como poderia eu falar sobre o amor, experimentar o que é o amor, se ainda houvesse dentro de mim algum desejo em compreender alguma coisa?
-Devo confessar que há beleza nisso que você diz.
-Eis a vida daquele que se liberta do desejo da verdade, do desejo do saber, do desejo de estar certo. Quando desaparece a busca pela verdade, pela compreensão do que é a vida, então a única coisa que resta é a própria vida. E o que é a vida senão apenas amor? E onde mais poderia haver algum tipo de beleza senão no amor?
-Não te entendo, mas gosto do que você me diz.
-Esse é o caminho meu caro amigo.
-Há amor nas suas palavras.
-Não posso evitar. Pois como eu te disse. Hoje finalmente chegou o dia. O dia de falar sobre o amor.

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