quinta-feira, 1 de abril de 2010

Trechos de A Gaia Ciência de Friedrich Nietzsche


Contra os caluniadores da natureza - Que seres desagradáveis estas pessoas em que toda tendência natural se torna rapidamente doença, algo deformante ou mesmo ignomínia! São elas que nos fazem acreditar que as inclinações naturais, os instintos do homem são maus; são elas a causa da nossa injustiça para com a nossa natureza, para com toda a natureza! Não faltam pessoas que teriam o direito de se abandonar às suas inclinações com graça, com despreocupação: mas não o fazem, com receio desta "má essência" imaginária da natureza! É em função disso que se encontra tão pouca nobreza em meio aos homens, pois a nobreza de uma alma se reconhecerá sempre no fato de não ter medo de si próprio, não esperar nada de vergonhoso e voar sem escrúpulos por toda a parte, tal pássaro nascido livre como é, onde o seu desejo o impele! Aonde quer que vá, será sempre rodeado pelo sol e pela liberdade.

Domínio sobre si - Esses professores da moral que recomendam ao homem acima de tudo que se autodomine, dão-lhe dessa forma, uma singular doença, ou seja, uma constante irritabilidade e uma comichão a todas às emoções e inclinações mais naturais. Seja o que for que lhe aconteça daqui para frente, seja de fora, seja de dentro, seja o que for que ele aí encontre ou que o atraia, ou que o incite, ou que empurre, parece sempre a este ser irritadiço que o seu domínio sobre si corre os maiores perigos: já não tem o direito de se fiar em nenhum instinto, de se abandonar a nenhum impulso livre, mantém-se na defensiva, sem repouso, eriçado de armas contra ele próprio, o olhar atento e desconfiado, mantendo eternamente diante da própria torre uma guarda que se impôs a ele mesmo. Por certo, ele pode ser grande nesse papel! Mas como se tornou insuportável aos outros, pesado para si mesmo, pobre, enfim, hermeticamente fechado aos mais belos acasos da alma! Como também, a qualquer outra lição futura! É preciso, pois, de vez em quando, saber perder-se, se quisermos aprender alguma coisa daquilo que nós próprios não somos.

3 comentários:

Anônimo disse...

Textos lindos! Parabens pela escolha deles!

Anônimo disse...

Ótimo texto, e com um grau de verdade!

Luiz Fernando disse...

Excelente escolha de aforismos, lindos e leves, assim como toda a gaia ciência.